A PROFECIA DE HOOLLYWOOD – Parte II


Essa reportagem foi exibida no dia 29/0/2004 pela BBC Brasil.
“O filme O Dia Depois de Amanhã, que estreou nesta sexta-feira nos cinemas, descreve um mundo tomado pelo caos quando mudanças súbitas no aquecimento global causam uma nova era glacial.

A agitação da mídia que acompanha o lançamento do filme sugere não só que o gênero clássico do cinema-catástrofe continua a frutificar, mas também que o patamar de exigência está mais alto do que nunca.

Quando parece que Hollywood está esgotando as possibilidades de cenários apocalípticos, os diretores aparecem com um novo instrumento capaz de causar a destruição global.
Antigos filmes-catástrofe como Aeroporto e Inferno na Torre se concentravam em um grupo de pessoas que batalhava contra tragédias de pequeno porte.Já o clássico Terremoto passa a maior parte do tempo criando um clima de tensão para a chegada do temido tremor.

Efeitos especiais
Esforços recentes procuram ir direto ao ponto e aproveitar ao máximo o cataclismo em si, em toda a sua glória computadorizada.Efeitos especiais alimentam os incêndios dos filmes-catástrofe modernos, tornando possível criar cenas de destruição em massa realmente convincentes.O fato de o noticiário trazer tantas imagens chocantes hoje em dia pode ser um motivo porque há menos resistência quando o assunto é descrever catástrofes fictícias.

Hoje em dia é claramente aceitável, e até obrigatório, que os filmes-catástrofe matem milhões de pessoas. A carnificina se acelerou em 1995 com Epidemia, em que uma cidade americana inteira foi dizimada, mas um ano depois o recorde foi destroçado por Independence Day, no qual alienígenas destroem a maior parte do planeta.

Apocalíptico
Apesar das esperanças de que o público está se tornando mais sofisticado, cenas de destruição desenfreada ainda se mostram um ímã irresistível nas bilheterias. A exemplo de filmes com asteróides – como Armageddon e Impacto Profundo - O Dia Depois de Amanhã dá seqüência à noção de que o moderno filme-catástrofe tem que colocar em risco todo o planeta, e não apenas uma cidade.

E, se um punhado de personagens o mantiverem vivo, estas produções apocalípticas ainda conseguem apresentar um final otimista, apesar da morte de milhões de pessoas. Se um filme não entrega o que a platéia quer, e permite que os heróis evitem a catástrofe iminente – como em O Núcleo – Missão ao Centro da Terra - os espectadores acabam se decepcionando.

Tradição
Apesar dos filmes-catástrofe modernos estarem em um mundo totalmente diferente de seus antecessores, várias características comuns persistem. A tradição ainda prevê que um personagem principal – de preferência uma estrela como Shelley Winter (O Destino do Poseidon) ou Bruce Willis (Armageddon) – vai nobremente sacrificar sua vida para salvar outras pessoas.

Você também pode contar que a metade de um casal vai morrer de forma emocionante, e não é difícil adivinhar que cidades vão arcar com o grosso da iminente tragédia – filmes-catástrofe são populares em todo o mundo e é fundamental a presença de paisagens facilmente reconhecíveis.
É por isso que as chuvas de meteoro de Armageddon acertam Paris e Xangai com pontaria tão certeira, e que os raios espaciais mortíferos de O Núcleo atingem a ponte Golden Gate, em São Francisco, na Califórnia.

Mas a cidade mais azarada é Nova York. Só nos últimos anos, ela foi inundada duas vezes por ondas gigantescas, devastada por um lagarto gigante, ameaçada por Gremlins, polvilhada com meteoros em chamas e explodida por alienígenas.

Destruição global
Respeitando a tradição, O Dia Depois de Amanhã também leva destruição a Nova York.
E, assim como em Terremoto e no mais recente Twister, a natureza se mostra uma inspirada ferramenta para a destruição global.Afinal de contas, vulcões, vírus e fenômenos meteorológicos são ameaças globais que podem atingir qualquer um e em qualquer lugar – e no mercado internacional do cinema, eles não têm implicações políticas.

E quando a vida imita a arte, a indústria cinematográfica fatura com a publicidade gratuita. A saga viral Epidemia foi lançada nos cinemas no momento em que uma crise de ebola atingia o Zaire, enquanto os filmes com asteróides de 1998 capitalizaram as preocupações de cientistas quanto à possível rota de colisão de um cometa com a Terra. Não há dúvidas de que a equipe por trás de O Dia Depois de Amanhã vai estar com os dedos cruzados para que este semana presencie um clima caótico”.

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