A leitura que se faz dos Escritos Sagrados, a Bíblia, tem
regras de interpretação. Cada seção tem suas próprias regras à parte – Lei,
Livros Históricos, Profecias, Livros Poéticos, Evangelhos etc.
A Hermenêutica bíblica estabelece que para se interpretar esses
vários livros, há um protocolo a ser seguido. Se isso não é considerado, a
leitura é errada e as conclusões são piores ainda.
O livro de Levítico esta no Pentateuco, a Lei, e existem pressupostos
para se entender essa seção:
- O texto é literal
- Os relatos são fatos que ocorreram e se tornam ‘tipos’ na seção dos profetas
- Os mandamentos estão por todo o Pentateuco; do Gênesis ao Deuteronômio. Não estão sistematizados, mas são inseridos de acordo com os relatos.
- O texto nos relatos não são autoritativos; a Lei se encontra em preceitos, ordenanças, estatutos, mandamentos e juízos [Gn 26:5].
- Os mandamentos estão em formato positivo ou negativos.
- A Lei possui 613 preceitos, ordenanças, estatutos e mandamentos – 365 negativos e 248 positivos.
- A Lei possui artigos de ordem – cerimonial, moral, civil, saúde, cultural e locais.
- A Lei foi editada em um regime Teocrático; nos regimes de realeza, e mais tarde de cativeiro, os artigos civis da Lei, eram suspensos.
- Os artigos culturais da Lei, eram mandamentos para o povo de Israel, e não necessariamente mandamentos em tempo posterior na era cristã.
A Lei tem uma Constituição ou os
Dez Mandamentos, que se constituem o mínimo da Lei [dos 613 mandamentos]. Os
Dez Mandamentos tem uma base que rege toda a Lei – o amor a Deus e amor ao
próximo. Ou seja, tudo o que você lê no Pentateuco, incluindo Levítico, é
regulado pelo amor.
Seções da Lei - artigos de saúde
Embora não esteja sistematizada,
a Lei possui seções de mandamentos – cerimonial,
moral, civil, saúde, cultural e locais.
A seção de mandamentos de saúde é
evidenciada pela ciência hoje, por exemplo:
Levítico 11 – é um Tratado de
Zoonose; os animais que são alistados como ‘imundos’ são ‘reservatórios’ de
micro-organismos que transmitem doenças a humanos.
Levítico 3 :16 – o mandamento
proíbe a ingestão [não proíbe transfusão] de sangue e gordura. A ingestão de
sangue era um condição moral, e a explicação bíblica é que no “sangue está a
vida”.
Além disso o argumento da saúde deve ser considerado, pois o sangue
contem excreções e toxinas; hormônios do animal também estão no sangue e afetam
os órgãos dos humanos.
A gordura animal hoje se sabe que
é inflamatória no organismo humano e causa a aterosclerose, ou endurecimento
das artérias, favorecendo o IAM e o AVC.
Levítico 18 – as relações sexuais
que são alistadas como ilícitas, na sua maioria são hoje entendidas como
restrições para complicações genéticas. O incesto [vs 6-9] é proibido em seus
vários graus [vs11-17].
O argumento de que Adão e Eva
permitiram seus filhos a fazer o incesto, porque eles tomaram suas irmãs como
esposas e parceiras sexuais, é um argumento verdadeiro. Mas o incesto que ali
ocorreu foi devido a instalação do pecado no planeta. Foi uma medida extrema
para a sobrevivência da raça humana caída. Mas depois disto o incesto não foi
incentivado.
A degradação da raça humana, as
muitas doenças, defeitos genéticos, desordens fisiológicas, vieram desse
primeiro incesto.
Deuteronômio 22:11 "Não vestirás de estofos de lã e linho juntamente" - esse artigo da Lei é colocado, por alguns, na seção de saúde. A estática provocada por tecidos de dois ou mais materiais seria a razão para evitar tais tecidos.
A estática causa um desiquilíbrio na eletricidade do corpo humano; e isso a longo prazo pode ser prejudicial.
Outros teóricos colocam esse artigo na seção ambiental da Lei. A Torah possui mandamentos de ordem a proteger o meio ambiente. Essa ordenança dos tecidos está ao lado de outro que diz - "Não lavrarás com junta de boi e jumento" v10. A conclusão é óbvia; os bovinos tem muito mais força que o jumento e colocariam em risco a vida do animal menor.
O quarto mandamento do Decálogo, que é a Constituição de toda Lei, ordena que no dia de descanso os animais deveriam também ser poupados de trabalho e descansarem [Ex 20:10].
A Lei é profunda e vasta, para uma crítica superficial e uma leitura rápida e tendenciosa. Hoje o meio ambiente é tão cercado de leis, mas elas estão nos escritos dos hebreus a 3500 anos.
Artigos culturais
O povo de Israel, no governo Teocrático,
tinha um mandamento rigoroso para não se misturar às nações que eram pagãs. E
haviam várias ordenanças culturais como “não
cortareis o cabelo em redondo” 19:27. Essa era uma ordenança cultural
para que os israelitas tivessem uma aparência distinta dos povos de Canaã que
cortavam seu cabelo desta forma. O mesmo ocorria com a barba; os caldeus e os
babilônios ‘desenhavam suas barbas’ e o povo de Israel não devia ter esse
costume. Mas essa era uma regra para os homens que fossem deixar a barba. É
obvio que nem todos os homens tinham barba. Sendo assim era uma ordenança
cultural. Haviam dezenas de ordenanças culturais restritas a Israel e aquele
tempo.
Duas coisas – a teologia
estabelece a diferença entre: ordenança, preceito, mandamento e juízo; e é a
teologia sistemática que irá desenvolver o que é cultural e o que é moral,
sendo válido ou inválido hoje.
A tatuagem [Lv 19:28] é
considerado também uma ordenança cultural, mas tinha conotações espirituais. Os
pagãos se tatuavam em rituais aos mortos, aos ídolos e deuses.
A ordenança é descrita em duas
partes, sendo a última frase descrita – “não fareis nenhuma marca sobre vós”
up. Boa parte dos estudiosos entende que há duas ordenanças aqui. Embora as
duas sejam culturais, a última é categórica em não se desenhar, ou tatuar nada
sobre o corpo.
Artigos Civis da Lei
Há muitos estatutos de ordem
civil. Era o código civil de Israel e legislava sobre: pecuária, agricultura,
terras etc.
Enquanto Israel permaneceu na
Teocracia esses estatutos deveriam ser seguidos – era Lei.
Mas depois que Israel estava sob
a jurisdição de outro Império, essas leis ficavam suspensas.
Dai o motivo de hoje não
seguirmos essas regras. Mas elas são as melhores leis civis, porque foram
idealizadas por Deus.
Jesus ao se reportar sobre a Lei
em seu primeiro discurso (Sermão do Monte) disse que não vinha para abolir a
Lei ou destruí-la (Mateus 5:17). E esta Lei que Jesus citava era a Torah ou o
Pentateuco, com seus 613 artigos.
Paulo, o grande teólogo da igreja
cristã, deixou em sua carta canônica de 1 Timóteo a declaração de que “toda
escritura é inspirada e útil” (3:12).
O que está acontecendo aqui?
Contradição? De forma alguma. O problema está em nossa exegese textual e regras
interpretação.
Os Doutores da Lei no tempo de
Cristo assumiam que os artigos da Lei que regiam a pena de morte não estavam mais
sobre a jurisdição deles – “A nós não nos é lícito matar ninguém” João 18:31.
Os Doutores da Lei já haviam
colocado essa questão diante de Jesus – “E na lei nos mandou Moisés que tais
mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? João 8:5. Jesus articulou da
mesma forma que a questão do dízimo – “Dai, pois, a César o que é de César e a
Deus o que é de Deus” Lucas 20:25.
A vigência civil de certos
artigos da lei não estavam mais na mão dos judeus. Eles a receberam em uma
jurisdição teocrática. Desde aquela época, os reis haviam assumido o poder e
posteriormente as nações gentias governavam sobre eles, e a estes se sujeitavam.
O que percebemos é a jurisdição
de certos artigos da lei (não sua validade). Em Levítico apedrejar pessoas não
está mais no poder da autoridade eclesiástica (já esteve) mas o que dizer do
dízimo? Jesus postulou – “dai... a Deus o que é de Deus”.
Calendário da agricultura
Haviam estatutos que regiam o
calendário dos plantios e colheitas.
A regra da terra ter um ano de
descanso, favorece a recuperação do solo na composição dos nutrientes. Os
alimentos estão perdendo seus nutrientes porque monoculturas estão empobrecendo
o solo.
A agricultura atual só é possível
através dos adubos químicos e pesticidas; mas isso não é o ideal.
Esses estatutos são
espiritualizados e se fazem tipologia para eventos escatológicos como –
pentecostes, chuva serôdia, chuva temporã, etc.
Conclusão
Criticar a Bíblia não é tão
simples. É preciso ler e estudar.
Para cada mandamento, estatuto,
preceito e juízo da Lei, há uma razão, existe bênçãos e vida em cada um deles.
“Eu sou o Senhor vosso Deus. Não
fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis
segundo as obras da terra de Canaã, para a qual vos levo, nem andareis nos seus
estatutos.
Fareis conforme os meus juízos, e
os meus estatutos guardareis, para andardes neles. Eu sou o Senhor vosso Deus. Portanto,
os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, observando-os o homem,
viverá por eles. Eu sou o Senhor” Levítico 18:2-5.
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