A Bíblia revela que Jesus é nosso Advogado Celestial (1João 2:1) e seu trabalho no céu está em um contexto de julgamento (Hebreus 4:15).
"A obra do juízo investigativo e extinção dos pecados deve
efetuar-se antes do segundo advento do Senhor. Visto que os mortos são julgados
pelas coisas escritas nos livros (Apocalipse 20:12), é impossível que os pecados dos homens sejam
cancelados antes de concluído o juízo em que seu caso deve ser investigado. Mas
o apóstolo Pedro declara expressamente que os pecados dos crentes serão
apagados quando vierem "os tempos do refrigério pela presença do
Senhor", e Ele enviar a Jesus Cristo (Atos 3:19 e 20). Quando se encerrar
o juízo de investigação, Cristo virá, e Seu galardão estará com Ele para dar a
cada um segundo for a sua obra.
No culto típico, o sumo sacerdote, havendo feito expiação
por Israel, saía e abençoava a congregação. Assim Cristo, no final de Sua obra
de mediador, aparecerá "sem pecado, ... para salvação" (Heb. 9:28), a
fim de abençoar com a vida eterna Seu povo que O espera. Como o sacerdote, ao
remover do santuário os pecados, confessava-os sobre a cabeça do bode
emissário, semelhantemente Cristo porá todos esses pecados sobre Satanás, o
originador e instigador do pecado. O bode emissário, levando os pecados de
Israel, era enviado "à terra solitária" (Lev. 16:22); de igual modo
Satanás, levando a culpa de todos os pecados que induziu o povo de Deus a
cometer, estará durante mil anos circunscrito à Terra, que então se achará
desolada, sem moradores, e ele sofrerá finalmente a pena completa do pecado nos
fogos que destruirão todos os ímpios. Assim o grande plano da redenção atingirá
seu cumprimento na extirpação final do pecado e no livramento de todos os que
estiverem dispostos a renunciar ao mal.
No tempo indicado para o juízo - o final dos 2.300 dias, em
1844 - iniciou-se a obra de investigação e apagamento dos pecados. Todos os que
já professaram o nome de Cristo serão submetidos àquele exame minucioso. Tanto
os vivos como os mortos devem ser julgados "pelas coisas escritas nos
livros, segundo as suas obras".
Pecados de que não houve arrependimento e que não foram
abandonados, não serão perdoados nem apagados dos livros de registro, mas ali
permanecerão para testificar contra o pecador no dia de Deus. Ele pode ter
cometido más ações à luz do dia ou nas trevas da noite; elas, porém, estavam
patentes e manifestas Àquele com quem temos de nos haver. Anjos de Deus
testemunharam cada pecado, registrando-os nos relatórios infalíveis. O pecado
pode ser escondido, negado, encoberto, ao pai, mãe, esposa, filhos e companheiros;
ninguém, a não ser os seus autores culpados, poderá alimentar a mínima suspeita
da falta; ela, porém, jaz descoberta perante os seres celestiais. As trevas da
noite mais escura, os segredos de todas as artes enganadoras, não são
suficientes para velar do conhecimento do Eterno um pensamento que seja. Deus
tem um relatório exato de toda conta injusta e de todo negócio desonesto. Não
Se deixa enganar pela aparência de piedade. Não comete erros em Sua apreciação
do caráter. Os homens podem ser enganados pelos que são de coração corrupto,
mas Deus penetra todos os disfarces e lê a vida íntima.
Quão solene é esta consideração! Dia após dia que passa para
a eternidade, traz a sua enorme porção de relatos para os livros do Céu.
Palavras, uma vez faladas, e ações, uma vez praticadas, nunca mais se podem
retirar. Os anjos têm registrado tanto as boas como as más. Nem o mais poderoso
guerreiro pode revogar a relação dos acontecimentos de um único dia sequer.
Nossos atos, palavras, e mesmo nossos intuitos mais secretos, tudo tem o seu
peso ao decidir-se nosso destino para a felicidade ou para a desdita. Ainda que
esquecidos por nós, darão o seu testemunho para justificar ou condenar.
Assim como os traços da fisionomia são reproduzidos com
precisão infalível sobre a polida chapa fotográfica, assim o caráter é
fielmente delineado nos livros do Céu. Todavia, quão pouca solicitude é
experimentada com referência àquele registro que deve ser posto sob o olhar dos
seres celestiais! Se se pudesse correr o véu que separa o mundo visível do
invisível, e os filhos dos homens contemplassem um anjo registrando toda
palavra e ação, que eles deverão novamente encontrar no juízo, quantas palavras
que diariamente se proferem ficariam sem ser faladas, e quantas ações sem ser
praticadas!
No juízo será examinado o uso feito de cada talento. Como
empregamos nós o capital que nos foi oferecido pelo Céu? Receberá o Senhor à
Sua vinda aquilo que é Seu, com juros? Empregamos nós as faculdades que nos
foram confiadas, nas mãos, no coração e no cérebro, para a glória de Deus e
bênção do mundo? Como usamos nosso tempo, nossa pena, nossa voz, nosso
dinheiro, nossa influência? Que fizemos por Cristo, na pessoa dos pobres,
aflitos, órfãos ou viúvas? Deus nos fez depositários de Sua Santa Palavra; que
fizemos com a luz e verdade que se nos deram para tornar os homens sábios para
a salvação? Nenhum valor existe na mera profissão de fé em Cristo; unicamente o
amor que se revela pelas obras é considerado genuíno. Contudo, é unicamente o
amor que, à vista do Céu, torna de valor qualquer ato. O que quer que seja
feito por amor, seja embora pequenino na apreciação dos homens, é aceito e
recompensado por Deus.
O oculto egoísmo humano permanece manifesto nos livros do
Céu. Existe o relato de deveres não cumpridos para com os semelhantes, do
esquecimento dos preceitos do Salvador. Ali verão quantas vezes foram cedidos a
Satanás o tempo, o pensamento, a força, os quais pertenciam a Cristo. Triste é
o relato que os anjos levam para o Céu. Seres inteligentes, seguidores
professos de Cristo, estão absortos na aquisição de posses mundanas ou do gozo
de prazeres terrenos. Dinheiro, tempo e força são sacrificados na ostentação e
condescendência próprias; poucos, porém, são os momentos dedicados à prece, ao
exame das Escrituras, à humilhação da alma e confissão do pecado.
Satanás concebe inumeráveis planos para nos ocupar a mente,
para que ela se não detenha no próprio trabalho com que deveremos estar mais
bem familiarizados. O arquienganador odeia as grandes verdades que apresentam
um sacrifício expiatório e um todo-poderoso Mediador. Sabe que para ele tudo
depende de desviar a mente, de Jesus e de Sua verdade.
Os que desejam participar dos benefícios da mediação do
Salvador, não devem permitir que coisa alguma interfira com seu dever de
aperfeiçoar a santidade no temor de Deus. As preciosas horas, em vez de serem
entregues ao prazer, à ostentação ou ambição de ganho, devem ser dedicadas ao
estudo da Palavra da verdade, com fervor e oração. O assunto do santuário e do
juízo de investigação, deve ser claramente compreendido pelo povo de Deus.
Todos necessitam para si mesmos de conhecimento sobre a posição e obra de seu
grande Sumo Sacerdote. Aliás, ser-lhes-á impossível exercerem a fé que é
essencial neste tempo, ou ocupar a posição que Deus lhes deseja confiar. Cada
indivíduo tem uma alma a salvar ou perder. Cada qual tem um caso pendente no
tribunal de Deus. Cada um há de defrontar face a face o grande Juiz. Quão
importante é, pois, que todos contemplem muitas vezes a cena solene em que o
juízo se assentará e os livros se abrirão, e em que, juntamente com Daniel,
cada pessoa deve estar na sua sorte, no fim dos dias!
Todos os que receberam luz sobre estes assuntos devem dar
testemunho das grandes verdades que Deus lhes confiou. O santuário no Céu é o
próprio centro da obra de Cristo em favor dos homens. Diz respeito a toda alma
que vive sobre a Terra. Patenteia-nos o plano da redenção, transportando-nos
mesmo até ao final do tempo, e revelando o desfecho triunfante da controvérsia
entre a justiça e o pecado. É da máxima importância que todos investiguem
acuradamente estes assuntos, e possam dar resposta a qualquer que lhes peça a
razão da esperança que neles há.
A intercessão de Cristo no santuário celestial, em favor do
homem, é tão essencial ao plano da redenção, como o foi Sua morte sobre a cruz.
Pela Sua morte iniciou essa obra, para cuja terminação ascendeu ao Céu, depois
de ressurgir. Pela fé devemos penetrar até o interior do véu, onde nosso
Precursor entrou por nós (Heb. 6:20). Ali se reflete a luz da cruz do Calvário.
Ali podemos obter intuição mais clara dos mistérios da redenção. A salvação do
homem se efetua a preço infinito para o Céu; o sacrifício feito é igual aos
mais amplos requisitos da violada lei de Deus. Jesus abriu o caminho para o
trono do Pai, e por meio de Sua mediação pode ser apresentado a Deus o desejo
sincero de todos os que a Ele se chegam pela fé.
"O que encobre as suas transgressões, nunca prosperará;
mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia." Prov. 28:13. Se os
que escondem e desculpam suas faltas pudessem ver como Satanás exulta sobre
eles, como escarnece de Cristo e dos santos anjos, pelo procedimento deles,
apressar-se-iam a confessar seus pecados e deixá-los. Por meio dos defeitos do
caráter, Satanás trabalha para obter o domínio da mente toda, e sabe que, se
esses defeitos forem acariciados, será bem-sucedido. Portanto, está constantemente
procurando enganar os seguidores de Cristo com seu fatal sofisma de que lhes é
impossível vencer. Mas Jesus apresenta em seu favor Suas mãos feridas, Seu
corpo moído; e declara a todos os que desejam segui-Lo: "A Minha graça te
basta." II Cor. 12:9. "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas
almas. Por que o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mat. 11:29 e 30.
Ninguém, pois, considere incuráveis os seus defeitos. Deus dará fé e graça para
vencê-los.
Vivemos hoje no grande dia da expiação. No cerimonial
típico, enquanto o sumo sacerdote fazia expiação por Israel, exigia-se de todos
que afligissem a alma pelo arrependimento do pecado e pela humilhação, perante
o Senhor, para que não acontecesse serem extirpados dentre o povo. De igual
modo, todos quantos desejem seja seu nome conservado no livro da vida, devem,
agora, nos poucos dias de graça que restam, afligir a alma diante de Deus, em
tristeza pelo pecado e em arrependimento verdadeiro. Deve haver um exame de
coração, profundo e fiel. O espírito leviano e frívolo, alimentado por tantos
cristãos professos, deve ser deixado. Há uma luta intensa diante de todos os
que desejam subjugar as más tendências que insistem no predomínio. A obra de
preparação é uma obra individual. Não somos salvos em grupos. A pureza e
devoção de um, não suprirá a falta dessas qualidades em outro. Embora todas as
nações devam passar em juízo perante Deus, examinará Ele o caso de cada
indivíduo, com um exame tão íntimo e penetrante como se não houvesse outro ser
na Terra. Cada um deve ser provado, e achado sem mancha ou ruga, ou coisa semelhante.
Solenes são as cenas ligadas à obra final da expiação.
Momentosos, os interesses nela envolvidos. O juízo ora se realiza no santuário
celestial. Há muitos anos esta obra está em andamento. Breve, ninguém sabe quão
breve, passará ela aos casos dos vivos. Na augusta presença de Deus nossa vida
deve passar por exame. Atualmente, mais do que em qualquer outro tempo, importa
a toda alma atender à admoestação do Salvador: "Vigiai e orai; porque não
sabeis quando chegará o tempo." Mar. 13:33. "Se não vigiares, virei a
ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei." Apoc. 3:3.
Quando se encerrar a obra do juízo de investigação, o
destino de todos terá sido decidido, ou para a vida, ou para a morte. O tempo
da graça finaliza pouco antes do aparecimento do Senhor nas nuvens do céu.
Cristo, no Apocalipse, prevendo aquele tempo, declara: "Quem é injusto,
faça injustiça ainda; quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo, faça
justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda. E, eis que cedo venho, e
o Meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra." Apoc.
22:11 e 12.
Os justos e os ímpios estarão ainda a viver sobre a Terra em
seu estado mortal: estarão os homens a plantar e a construir, comendo e
bebendo, todos inconscientes de que a decisão final, irrevogável, foi
pronunciada no santuário celestial. Antes do dilúvio, depois que Noé entrou na
arca, Deus o encerrou ali, e excluiu os ímpios; mas, durante sete dias, o povo,
não sabendo que seu destino se achava determinado, continuou em sua vida de
descuido e de amor aos prazeres, zombando das advertências sobre o juízo iminente.
"Assim", diz o Salvador, "será também a vinda do Filho do
homem." Mat. 24:39. Silenciosamente, despercebida como o ladrão à
meia-noite, virá a hora decisiva que determina o destino de cada homem, sendo
retraída para sempre a oferta de misericórdia ao homem culpado.
"Vigiem, ... para que, vindo de improviso, não vos ache
dormindo." Mar. 13:35 e 36. Perigosa é a condição dos que, cansando-se de
vigiar, volvem às atrações do mundo. Enquanto o homem de negócios está absorto
em busca de lucros, enquanto o amante dos prazeres procura satisfazer aos
mesmos, enquanto a escrava da moda está a arranjar os seus adornos - pode ser
que naquela hora o Juiz de toda a Terra pronuncie a sentença: "Pesado
foste na balança, e foste achado em falta." Dan. 5:27.
Fonte: Livro O Grande Conflito; págs.385-491
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