YAHWEH TENTADO DEZ VEZES

 Em Números 14:22 Deus diz – “dez vezes puseram à prova a minha paciência e não quiseram me obedecer”. Deus se referia ao povo de Israel, aquela geração que saiu do Egito e era obstinadamente desobediente e murmuradora. 

Essa declaração é feita por Deus no episódio do relatório dos espias (Nm 13–14), quando Israel, diante da terra prometida, se rebela e deseja voltar para o Egito. 

A expressão "dez vezes" aponta para momentos críticos em que Deus operou maravilhas, grande sinais e milagres, e mesmo diante de evidências grandiosas, o povo murmurava.

Foram dez eventos específicos de murmuração desde o Êxodo até aquele momento e que marcaram o relacionamento de Yahweh com aquela geração. O limite da misericórdia Divina foi extrapolado, e eles castigados em permanecer 40 anos no deserto e não entrar na Terra Prometida, porque rejeitaram fazer isso. 

As possíveis "Dez Tentações" de Israel que impuseram a Yahweh foram as seguintes: 

   1. Murmuração antes de sair do Egito (Ex 14:12) o povo não queria deixar a escravidão. Pediram para não os tirar do Egito.

 2. Murmuração no Mar Vermelho (Êxodo 14:11). São sarcásticos ao dizer que vão morrer no deserto mas preferiam morrer no Egito.

3. Águas amargas de Mara (Êx 15:22-24).

4. Fome no deserto (Êx 16:13 – pedindo pão). 

 5. Coletar maná no sábado (Êx 16:27-28). 

 6. Sede em Refidim (Êx 17:3,7). 

 7. Bezerro de ouro (Êx 32). 

 8. Murmuração geral (Números 11:1–3).

 9. Ânsia por comer carne (Nm 11:10). 

 10. Rejeição de Canaã (Nm 14:2 – relatório dos espias). 

Conclusão: 

 Esses textos mostram que a rebeldia persistente endurece o coração (Hb 3:7-19). 

 Deus considera a incredulidade como uma "tentação" contra Ele (Sl 95:89). 

 No NT, Paulo usa esse evento como advertência (1Co 10:9,10). 

O CÂNTICO DE MOISÉS E O CÂNTICO DO CORDEIRO

O Cântico de Moisés em Êxodo 15 é um dos textos mais teologicamente ricos do Antigo Testamento. Mais do que uma simples celebração pela travessia do Mar Vermelho, este poema é uma declaração litúrgica da realeza de Yahweh, que triunfa sobre as forças do caos e estabelece Seu domínio sobre a criação e a história; e o cântico ainda tem projeções proféticas no Apocalipse.

O cântico que está nos vs1-19, divide-se em duas partes principais: 1. A vitória sobre o Egito (vs1-12) – Um relato poético da destruição do exército de Faraó. E a 2ª parte é a proclamação do reinado de Yahweh (vs13-18) – Uma antecipação da conquista de Canaã e do santuário divino. 

O poema segue a estrutura de um hino de guerra antigo, semelhante aos textos ugaríticos, mas com uma teologia distintamente israelita. A linguagem é intencionalmente cósmica, apresentando Yahweh como um guerreiro divino que domina até as forças primordiais do caos. Essa imagem do guerreiro divino aparecem em Apocalipse 6 v1 e Apocalipse 19 vs11-15. 

O afogamento do exército egípcio não é apenas um evento histórico, mas uma recriação da narrativa de Gênesis 1, onde Deus vence as águas do caos: o v7 diz "Lançaste no abismo os que se levantaram contra Ti; com Teu furor os consumiste como palha". O motivo do combate cósmico (Yahweh vs. o mar/ que representa a divindade egípcia Rá-Hórus) ecoa mitos cananeus, mas é reinterpretado para mostrar a supremacia do Deus de Israel. O Egito, no contexto apocalíptico é o inimigo número um de Yahweh, a primeira das sete cabeças do Dragão (Ap 12:3); e Yahweh o enfrenta em seu habitate, o abismo, o fundo do oceano, o mar de onde ele geras as bestas. 

O mar, na mentalidade antiga, simbolizava o caos primordial, e ao dividir o Mar Vermelho, representa a soberania divina e o poder de Yahweh como Criador. O mar, na tradição hebraica, e na imagística do Apocalipse, simboliza as forças hostis; o Dragão é uma serpente marinha. Isaías 27 v1 diz que “Naquele dia o Senhor... o Leviatã, serpente veloz, Leviatã, serpente tortuosa; e matará o monstro que está no mar.” O Egito sendo afogado no mar, é um prenúncio para a Besta do Mar e a Besta do Abismo, de que seu fim será o Lago de Fogo (Ap 20 v10).

O cântico não termina com a destruição do Egito, mas com uma visão escatológica: "Tu os levarás e os plantarás no monte da Tua herança... Santuário, ó Senhor, que as Tuas mãos estabeleceram" (v17). Essa visão é ampliada em Apocalipse 20 v4 – “Vi tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade para julgar. ... e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos”. Esses tronos estão no Santuário Celestial, e ali os justos julga-rão os seus inimigos, e os condenarão ao fogo eterno, a extinção eterna.

Este trecho antecipa a conquista de Canaã e a construção do Templo, mostrando que o Êxodo não é um fim em si mesmo, mas o início de um projeto teocrático. 

Essa última parte do cântico de Moisés é uma liturgia de entronização, onde Yahweh é proclamado rei não apenas sobre Israel, mas sobre todas as nações; não foi composto apenas para registro histórico, mas para uso cultual. A linguagem do "temor" no v16, ecoa em textos como Josué 2:9-11, onde as nações reconhecem o poder de Yahweh. Vários salmos, como o 77 e o 106, e até o livro de Apocalipse (Ap 15 vs2,3) o retomam, mostrando sua centralidade na memória litúrgica de Israel. 

O Cântico de Moisés aqui em Êxodo 15 e o Cântico do Cordeiro em Apocalipse 15, tem conexões teológicas; repre sentam dois momentos cruciais na narrativa bíblica: o primeiro, uma celebração da libertação histórica do Egito; o segundo, uma proclamação escatológica da vitória final de Deus sobre o Dragão, a Besta do Mar e o Falso Profeta. Embora separados por séculos, esses hinos compartilham uma teologia profundamente conectada, revelando a continuidade do plano redentor de Deus. 

Êxodo 15:1-19, já vimos, é O Cântico da Libertação do Egito. Apocalipse 15 vs3,4 é O Cântico da Vitória Escatológica. Os vencedores da Besta do Mar, celebram diante do trono de Deus. 

No v3 Deus é declarado como Rei das Nações. Justiça e verdade divinas são manifestadas no juízo (v4). E a  Adora ção universal ao Cordeiro é celebrada (v4). Este cântico reescreve Êxodo 15 à luz da vitória de Cristo, mostrando que o Êxodo foi um prelúdio da vitória de Jesus sobre os poderes finais – o Dragão a Besta e o Falso Profeta. 

A linguagem de "justos e verdadeiros" (v3) ecoa a fidelidade de Yahweh no Êxodo, agora cumprida em Cristo.

Nos dois cânticos, Yahweh/Jesus são como Guerreiros Divinos. Êxodo 15:3: "O Senhor é guerreiro; Senhor é o Seu nome." Em Apocalipse 15:3: "Grandes e maravilhosas são as Tuas obras, Senhor Deus Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei das nações!" 

Ambos os textos apresentam Deus como um vencedor cósmico. No Êxodo, Ele derrota Faraó; no Apocalipse, Ele triunfa sobre a Besta. A diferença é que, em Apocalipse, o Cordeiro (Cristo) compartilha essa vitória, cumprindo o papel de guerreiro-redentor (Ap 5:6-10). O tema do "Deus guerreiro" é central na tradição israelita e é reinterpreta do cristologicamente no NT. 

Em Êxodo 15: O mar é o instrumento do juízo sobre o Egito.  Em Apocalipse 15 “mar de vidro, misturado com fogo” lembra o Mar Vermelho, e os juízo de fogo e enxofre.

Em ambos os casos, Deus age de forma sobrenatural para destruir Seus inimigos. No Êxodo, as águas representam o caos vencido; no Apocalipse “o mar de vidro misturado com fogo, evoca o Lago de Fogo e enxofre de Apocalipse 20 v10. 

O juízo no Êxodo é um mini juízo para o juízo final escatológico. 

Em Êxodo 15 vs14-16: As nações tremem diante de Israel. Em Apocalipse 15:4 é dito que "Todos os povos virão e Te adorarão." 

O Êxodo assim, antecipa um reino teocrático, enquanto o Apocalipse revela seu cumprimento na Reino Eterno. A diferença é que, em Cristo, a adoração não se limita a Israel, mas abrange todas as nações. 

No Êxodo temos uma das primeiras batalhas do Grande Conflito, não plenamente realizada, e no Apocalipse, temo o Armagedom (Ap 16 v16), a última batalha.

No Êxodo, o tabernáculo é prometido (cap.15:17); no Apocalipse, o templo celestial é aberto (cap.15 v5). 

O Êxodo prepara o caminho para a missão às nações; e o Apocalipse finaliza a conquista e salvação das nações. 

Êxodo 15 celebra Deus libertando Israel do Egito. Apocalipse 15 celebra Cristo libertando a humanidade do pecado e da morte. 

Assim Apocalipse 15 é uma "releitura escatológica" de Êxodo 15. Um Único Cântico, Duas Fases da Redenção. 

O cântico de Moisés termina com a declaração – “O Senhor reinará por todo o sempre” v18; o Apocalipse termina descrevendo – “Os seus servos o adorarão,contemplarão a sua face, e na sua testa terão gravado o nome dele... e reinarão para todo o sempre” Ap 22 vs3,5.

Conclusão

Os dois cânticos não são independentes, mas elos da mesma cadeia redentora.

A Bíblia não é uma coleção de histórias desconexas, mas uma narrativa unificada, onde o Êxodo prenuncia o Apocalipse, e o Cordeiro cumpre o que Moisés começou.

AS PRAGAS DO EGITO E OS FALSOS DEUSES


As pragas do Egito (Êxodo 7-11) tinham vários propósitos:

1) Convencer a Faraó, o rei do Egito, a libertar o povo de Israel da escravidão - Ex 6:1
2) Castigar os egípcios pelo mal imposto ao povo de Deus e aos crimes cometidos contra eles - Ex 6:29 
3) Destruir a religião idólatra egípcia e a mentira que acreditavam - Ex 10:2
4) Desacreditar o povo sobre os falsos deuses; e aos espíritos maus, atrás deles - Ex 9:14
5) Demonstrar aos egípcios a grandeza de Yahweh e a superioridade aos falsos deuses Ex 12:12up
6) Demonstrar ao povo de Israel a grandeza de Yahweh - Ex 6:6,7
7) Divulgar a toda à Terra que Yahweh é o único e verdadeiro Deus - Ex 9:14

Os principais deuses daquele povo foram humilhados pelos juízos de Yahweh. 
O tipo de praga que Deus trouxe sobre o Egito, era direcionado para destruir a fé do povo nesses falsos deuses. 

1. Água transformada em sangue, o deus atingido foi Hapi (deus do Nilo e da fertilidade). 
Também foi desacreditado Khnum (guardião do Nilo) e Osíris (cujo sangue era associado ao Nilo). 

2.na praga das Rãs, a deusa atingida foi Heket (deusa da fertilidade com cabeça de rã). 

3. Na praga dos Piolhos o deus atingido foi Geb (deus da terra, onde os piolhos surgiram). 

4.na praga das Moscas, Khepri (deus com cabeça de besouro, associado a insetos) foi desacreditado; outra deusa era Uatchit (ligada a moscas e proteção). 

5. No juízo da Peste nos animais, Hathor (a deusa-vaca) e Ápis ( o deus touro sagrado de Mênfis) foram anulados.  

6. No juózo das Úlceras, Sekhmet (deusa da cura e das pragas) foi anulada; também Isis e Thoth (deuses da medicina) foram desacreditados. 

7. No juízo da Chuva de granizo os deuses atingidos foram Nut (deusa do céu) e Set (deus das tempestades); Shu (deus do ar) também foi anulado. 

8. na praga dos Gafanhotos, os deus atingidos foram  Senejem (deus protetor das colheitas) e Osíris (associado à fertilidade agrícola). 

9. No juízo das Trevas os deuses atingidos foram Rá (deus do sol) e Hórus (deus do céu e da luz); Aton (o disco solar) e Thoth (deus da lua e da sabedoria) também foram humilhados. 

10. No juízo da Morte dos primogênitos (Êx 11:1–12:36) o deus atingido foi Faraó (considerado a encarnação de Hórus e filho de Rá); também desacreditou Meses (deusa protetora das crianças) e Ptah (criador da vida).

As pragas do Egito nos ajudam a entender as pragas apocalípticas. O relato dessas pragas no livro do Êxodo ainda tipificam a obra de Deus em destruir a idolatria da Babilônia Espiritual - a doutrina romana e o Vaticano.