OS VOTOS NA BÍBLIA E SEU SIGNIFICADO


O que é um voto na Bíblia — definição e sentido

Um voto (hebraico neder/nedarim) é uma promessa solene feita a Deus, na qual a pessoa se compromete a realizar, oferecer ou abster-se de algo em resposta a uma necessidade, agradecimento ou consagração. É um ato voluntário, religioso e com caráter sério — Deus é testemunha e a Bíblia exige que a palavra dada seja cumprida. 

Tipos / formas de voto encontrados nas Escrituras

                             Votos pessoais de dedicação — promessas de consagrar algo (ex.: dedicar um filho ao serviço do Senhor). (Ex.: Hannah). 

                             Votos de abstinência / nazireato — o caso do nazireu (nazirite): abster-se de vinho, não cortar o cabelo e evitar contato com mortos por um período de consagração (regra em Números 6). Esse era um voto de separação/consagração. 

                             Votos destrutivos ou imprudentes — promessas precipitadas que podem trazer resultados trágicos (ex.: o voto de Jefté). A lei mosaica regula e também limita votos impulsivos. 

Regras legais e avisos bíblicos importantes

                             Regulação legal: A Lei tratou de votos (por exemplo Números 6 para o nazireato; Números 30 regula quando votos de mulheres podem ser anulados por pai ou marido). Essas normas mostravam que votos eram sérios, mas também passíveis de controle social e jurídico. 

                             Cumprimento e seriedade: O AT e o NT enfatizam que, se alguém prometeu, deve cumprir — “quando fizeres voto a Deus, não tardes em cumpri-lo” (Ecl. 5:4) e o louvor àquele que “guarda juramento mesmo que lhe prejudique” (Salmo 15:4). 

                             Cautela de Jesus: No NT Jesus adverte contra juramentos levianos e recomenda que o crente seja simplesmente íntegro: “seja o vosso ‘sim’, sim, e o vosso ‘não’, não” (Mateus 5:33–37). Em outras palavras: melhor não prometer do que prometer e não cumprir. 

                             Votos são sérios. A Escritura trata votos como compromissos que envolvem Deus como testemunha — por isso não devem ser feitos levianamente. (Ecl. 5; Salmo 15). 

                             Melhor cautela do que impulso. Jefté é um aviso contra promessas precipitadas. Faça promessas meditadas e, se prometer, cumpra. 

                             Inteireza diária: Jesus preferiu que sejamos pessoas de tal integridade que não dependamos de juramentos para confirmar a verdade do que falamos — “sim” deve ser “sim”. Isso implica um chamado à honestidade constante, não ao ritual de prometer. 

Ocorrências de Votos na Bíblia

Pentateuco

                1.            Gênesis 28:20–22 — Jacó em Betel

Jacó faz voto: se Deus o guardar e lhe der provisão, o Senhor será seu Deus e ele dará o dízimo.

 Exemplo de voto condicional, ligado à gratidão e dependência.

                2.            Levítico 27 (todo capítulo)

Regulamentação sobre votos de pessoas, animais, casas ou campos dedicados ao Senhor.

Mostra que votos tinham valor econômico e podiam ser resgatados mediante avaliação.

                3.            Números 6:1–21 — O voto do nazireu

Regras para quem quisesse consagrar-se por tempo determinado: não beber vinho, não cortar cabelo, não tocar em mortos.

Um voto de separação e santidade.

                4.            Números 21:1–3 — Israel contra os cananeus

Israel fez voto ao Senhor: se entregasse os inimigos, eles destruiriam totalmente suas cidades. Deus ouviu.

Voto coletivo de guerra, cumprido.

                5.            Números 30:1–16 — Leis sobre votos

Orientações sobre a obrigatoriedade dos votos e possibilidade de anulação por autoridade paterna ou marital.

Reforça a seriedade do voto e a ordem comunitária.

                6.            Deuteronômio 12:11; 23:21–23

O povo deveria cumprir tudo o que fosse prometido ao Senhor.

Advertência: melhor não votar do que votar e não cumprir.

Livros Históricos

                7.            Juízes 11:29–40 — Jefté

Fez voto precipitado: ofereceria em holocausto o que saísse de sua casa ao voltar da vitória. Saiu sua filha.

Exemplo trágico de voto imprudente.

                8.            Juízes 13:5–7 — Anjo anuncia nascimento de Sansão

O menino seria nazireu desde o ventre.

Aqui o voto é divinamente estabelecido, não humano.

                9.            1 Samuel 1:11; 1:24–28 — Ana (Hannah)

Prometeu entregar seu filho ao serviço do Senhor se fosse atendida. Cumpriu com Samuel.

Exemplo de voto de consagração sincera.

                10.         2 Samuel 15:7–9 — Absalão

Disse a Davi que precisava ir a Hebrom pagar um voto ao Senhor, mas usou isso como pretexto para conspirar.

Exemplo de uso hipócrita do voto.

                11.         Jonas 1:16

Os marinheiros, após o mar se acalmar, temeram ao Senhor, ofereceram sacrifícios e fizeram votos.

Votos de estrangeiros reconhecendo o Deus verdadeiro.

Livros Poéticos e Sapienciais

                12.         Salmo 22:25; 50:14; 56:12; 61:5,8; 65:1; 66:13–14; 76:11; 116:14,18

Vários salmos falam de pagar votos ao Senhor, especialmente em contextos de livramento.

Os votos aparecem ligados à gratidão e adoração pública.

                13.         Provérbios 20:25

“Laço é para o homem dizer precipitadamente: É santo! e só refletir depois de fazer o voto.”

Advertência contra fazer votos sem pensar.

                14.         Eclesiastes 5:4–6

“Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo.”

Ressalta a seriedade de cumprir o que se promete.

Profetas

                15.         Naum 1:15

O profeta conclama Judá: “Cumpre os teus votos.”

Reforço profético sobre a fidelidade a promessas feitas a Deus.

Novo Testamento

                16.         Atos 5:1-3 – Ananias e Safira

Esse casal fez um voto dedicando um campo à igreja, mas por sua cobiça, cometeram fraude e as consequências foram fatais. Esse é um exemplo de como Deus leva a sério os votos tomados diante dele.

17.         Atos 18:18 — Paulo em Cencréia

Tendo feito um voto, rapou a cabeça.

Indica cumprimento de voto pessoal, possivelmente nazireu.

                18.         Atos 21:23–26 — Paulo e quatro homens com voto

Paulo participa de rito de purificação com homens que tinham feito votos.

Mostra que a prática continuava no judaísmo do tempo do NT.

                19.         Mateus 5:33–37; Tiago 5:12

Jesus e Tiago advertem contra juramentos e votos precipitados.

O ideal cristão é viver com tanta integridade que não seja necessário jurar.

Resumo da natureza dos votos bíblicos

                             Atos voluntários (exceto em casos especiais como Sansão).

                             Sérios e obrigatórios — envolvem a honra do crente diante de Deus.

                             Motivados por gratidão, necessidade ou consagração.

                             Advertência constante: não fazer de modo precipitado ou hipócrita.

Votos fixos na forma de mandamento

Há alguns votos que são de natureza sagrada porque foram expressos como mandamentos.

1.      Votos Matrimoniais – o casamento é um mandamento e envolve votos que marido e mulher fazem um ao outro. Esses votos são vitalícios e permanentes.

2.      Dízimos e Ofertas – são também mandamentos mas como são recursos pessoais dedicados a Deus, podem ser considerados votos a cumprir.

3.      Votos Batismais – no batismo tomamos votos nos comprometendo com as doutrinas e verdades bíblicas. Esses votos sagrados são tomados diante da igreja como testemunhas de nosso compromisso com Deus.

Citações diretas de Ellen White sobre os votos feitos a Deus:

                1.            Solenidade dos votos

“Quando um homem fizer voto ao Senhor ou fizer juramento, ligando a sua alma com obrigação, não violará a sua palavra; segundo tudo o que saiu da sua boca, fará.” Números 30:1, 2. […] “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não Se agrada de tolos; o que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votes e não pagues.” Eclesiastes 5:4, 5. — Testemunhos para a Igreja 4, p. 457

                2.            Votos feitos em momentos de consagração

“É quando a luz divina ilumina o mais íntimo do espírito […] que o egoísmo perde sua força sobre o coração, e despertam-se desejos de imitar o Modelo, Jesus Cristo, no exercer beneficência e abnegação. […] E ele faz um voto solene a Deus, como fizeram Abraão e Jacó. Nessas ocasiões acham-se presentes anjos celestes.” — Testemunhos para a Igreja 4, p. 505

                3.            Gravidade de não cumprir os votos

“O plano da benevolência sistemática foi do próprio arranjo de Deus; mas o fiel pagamento das reivindicações de Deus é muitas vezes recusado ou retardado, como se promessas solenes nada significassem. […] Nada senão completa incapacidade de pagar pode justificar alguém de negligenciar atender prontamente às suas obrigações para com o Senhor.” — Testemunhos para a Igreja 4, p. 461

                4.            Advertência contra quebrar promessas

“Alguns de vocês têm estado a tropeçar em suas promessas. […] Sob a inspiradora influência celestial, vocês viram que o egoísmo e o mundanismo não condiziam com o caráter cristão. […] Mas, quando a influência de Seu abundante amor deixou de ser sentida de maneira tão acentuada, vocês retiveram suas ofertas, e Deus retirou de vocês a Sua bênção.” — Testemunhos para a Igreja 5, p. 266

                5.            Exemplo de Ananias e Safira

“O coração de Ananias e o da esposa foram movidos pelo Espírito Santo a dedicar suas posses a Deus. Mas depois de terem feito o voto, recuaram, e determinaram não cumpri-lo. […] Haviam praticado fraude para com Deus, haviam mentido ao Espírito Santo, e seu pecado foi visitado com juízo rápido e terrível.” — Conselhos sobre Mordomia, p. 222

                6.            Responsabilidade dos votos batismais

“Pais, tendes uma igreja em vosso lar […] Mas precisais educar-vos de acordo com vossos votos batismais. Quando fizestes tais votos, vos comprometestes em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, a viver para Deus, e não tendes o direito de quebrar esse compromisso.” — Testemunhos para a Igreja 4, p. 197-198

“Por seus votos batismais todo membro da igreja se comprometeu solenemente a guardar os interesses dos irmãos. […] Suas palavras e comportamento devem influenciá-los a seguir o exemplo de Cristo na abnegação, no sacrifício e no amor por outros.” — Testemunhos para a Igreja 5, p. 480-490

“Por seus votos batismais, acham-se comprometidos a fazer diligentes, abnegados esforços para promover, nas partes mais difíceis do campo, a obra de salvar almas. Deus tem posto em todo crente a responsabilidade de esforçar-se a fim de salvar os desamparados e oprimidos.” — Evangelismo, p. 282-283

                7.            Votos matrimoniais diante de Deus

“Quando você fez seu voto diante de Deus e dos santos anjos, sabia que nem você e nem seu marido eram perfeitos; isto não é, pois, desculpa para quebrar os votos matrimoniais. […] Devo dizer-lhe que você não pode quebrar seus votos matrimoniais e sentir-se sem culpa diante de Deus.” — Testemunhos Sobre Conduta Sexual, Adultério e Divórcio, p. 50

“O casamento é um contrato por toda a vida. […] Os votos ligam os destinos de duas pessoas com laços que coisa alguma senão a mão da morte deve desatar.” — Testemunhos Seletos 1, p. 576

“A esposa deve respeitar e obedecer, mas se ela terminantemente se recusa a preservar os votos matrimoniais, tornar-se-á mais e mais o joguete das tentações satânicas. […] Natureza permanente dos votos matrimoniais — Irmão D, você tem-se sentido aterrorizado com a violência de sua esposa, mas o caminho que deve seguir é a reta vereda da verdade, justiça e sabedoria.” — Testemunhos Sobre Conduta Sexual, Adultério e Divórcio, p. 70

Ellen White deixa claro que os votos a Deus são solenes compromissos espirituais, e quebrá-los é considerado pecado grave. Ela os aplica a diferentes áreas: ofertas, votos matrimoniais, votos batismais e até mesmo promessas feitas em momentos de consagração.

Santidade dos votos e consciência diante de Deus

“Há muitos votos negligenciados e promessas por pagar, e no entanto quão poucos sentem a consciência turbada por causa disso! […] A consciência precisa ser despertada, e examinar-se o assunto com diligente atenção; pois no último dia ter-se-á de prestar contas a Deus, e Seus direitos serão apurados.” — Testemunhos Seletos 1, p. 501-502

Negligência em cumprir compromissos com Deus

“É porque membros da igreja negligenciam devolver seus dízimos e cumprir seus votos que nossas instituições não estão livres de dificuldades. […] Nada senão completa incapacidade de pagar pode justificar alguém de negligenciar atender prontamente às suas obrigações para com o Senhor.” — Testemunhos para a Igreja 4, p. 461

Responsabilidade da igreja diante dos votos

“A Igreja é responsável pelos compromissos de seus membros individuais. Uma vez que vejam que um irmão está negligenciando cumprir seus votos, devem trabalhar bondosa e claramente com ele. […] Deus quer que os membros de Sua igreja considerem seus compromissos para com Ele tão obrigatórios como as dívidas que tenham no comércio.” — Testemunhos Seletos 1, p. 553

Conclusão

Os votos são poderosas ferramentas para alcançar a intervenção Divina e Seu poder em determinadas situações. São experiências mais profundas com Deus; relações mais próximas. Mas ao mesmo tempo exigem seriedade e compromisso em cumprir esses votos.

 

 

 

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