[A tecnologia também gera doenças; vários distúrbios de personalidade, de comportamento e social já são identificados por especialistas.]
"A síndrome do 'sempre ligado' aflige usuários de smartphones. Você está de férias, mas checa os e-mails do trabalho assim
que acorda. E fica preocupado se o hotel não tiver um bom wi-fi ou se seu
celular ficar sem sinal."
"Esses são típicos indícios de que você pode sofrer do
estresse conhecido como "sempre ligado", que afeta pessoas que não
conseguem largar de seus smartphones."
[Esse agravante se torna um problema até para a vida espiritual do indivíduo; a pessoa não consegue uma comunhão regular porque primeiro ocorre as checagens das redes sociais.
O relacionamento saudável da família, tão importante para a psiquê humana, está sendo ignorada e as relações se tornando artificiais. O resultado disso está sendo o distanciamento entre familiares e a formação de ´zumbi digitais´.
A situação é extrema quando a espiritualidade é afetada; na igreja a adoração, o louvor e a meditação na Palavra de Deus é substituída pela interação com o aparelho. O sagrado é ignorado pelo profano.
Até o ambiente de trabalho está sendo afetado.]
"Para alguns, os aparelhos os liberaram de uma rotina rígida
no escritório. As horas de trabalho ficaram mais flexíveis, dando mais
autonomia ao funcionário. Para outros, no entanto, os smartphones se
transformaram em verdadeiros tiranos dentro do bolso, impedindo que seus
usuários se desconectem do trabalho. E essa dependência torna-se cada vez mais preocupante,
segundo observadores.
O americano Kevin Holesh estava tão preocupado com o fato de
ignorar cada vez mais parentes e amigos por conta de seu iPhone que criou um
aplicativo - Moment - para monitorar seu próprio uso.
O aplicativo lhe permite contar a quantidade de tempo gasta
no smartphone e adverte se esse uso ultrapassar limites que Holesh se
autoimpôs.
"O objetivo é promover o equilíbrio na vida", diz
seu site. "(Passar) um tempo no telefone e um tempo sem ele, aproveitando
sua família e seus amigos."
E alguns empregadores estão percebendo que não é muito fácil
manter esse equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Alguns precisam de
ajuda externa.
A montadora alemã Daimler, por exemplo, recentemente passou
a oferecer um "apagador" automático de e-mails para funcionários em
férias, reconhecendo que muitos têm dificuldade em se desligar do trabalho.
"Os impactos negativos dessa cultura do 'sempre ligado'
são que a sua mente nunca descansa, você não dá ao seu corpo o tempo para se
recuperar e fica sempre estressado", disse à BBC a psicóloga ocupacional
Christine Grant, do centro de pesquisas em psicologia e comportamento da
Universidade Coventry (Grã-Bretanha).
"E, quanto mais cansaço e estresse, mais erros
cometemos. A saúde mental e física pode sofrer." O fato de podermos estar
conectados ao trabalho em qualquer lugar do mundo está fomentando inseguranças,
prossegue Grant.
"Há uma enorme ansiedade quanto a delegar", diz.
"Na minha pesquisa, encontrei diversas pessoas exaustas porque viajavam
conectadas o tempo todo, independentemente do fuso horário em que
estivessem."
As mulheres causam preocupação em especial: muitas passam o
dia trabalhando, voltam para casa para cuidar dos filhos e ainda fazem uma
jornada extra no computador antes de dormir.
"Essa jornada tripla pode ter um grande impacto na
saúde", opina Grant. O presidente da Sociedade Britânica de Medicina
Ocupacional, Alastair Emslie, concorda, alegando que centenas de milhares de
britânicos relatam anualmente sofrer de estresse no trabalho - a ponto de
adoecerem.
"As mudanças tecnológicas contribuem para isso,
sobretudo se fizerem os funcionários se sentirem incapazes de lidar com as
crescentes demandas ou perderem o controle sobre sua carga de trabalho."
Dados indicam que os britânicos passam até 11 horas diárias
consumindo mídias; e o Brasil tem um dos maiores índices globais de uso diário
de smartphones (cerca de uma hora e meia).
E, com o crescimento no número de smartphones, cresce também
a quantidade de dados à nossa disposição - o que pode levar a uma espécie de
paralisia, argumenta Michael Rendell, que trabalha com a consultoria PwC.
"Isso cria mais estresse no ambiente de trabalho porque
as pessoas estão tendo de englobar uma quantidade maior de informações e meios
de comunicação, e é difícil gerenciar tudo. Torna-se mais difícil tomar
decisões, e muitos perdem produtividade por estarem sobrecarregados e sentirem
que nunca escapam do trabalho."
"Achamos que ficar checando e-mails é trabalhar, mas
muitas vezes não é algo produtivo", argumenta o advogado britânico Tim
Forer.
Ele explica que a checagem constante de e-mails fora do
escritório pode, em alguns casos, desrespeitar legislações trabalhistas.
"Isso coloca em risco o dever da empresa em zelar por seus
empregados", diz.
Uma pesquisa da empresa de TI SolarWinds diz que mais da
metade dos trabalhadores entrevistados sente que é esperado que eles trabalhem
mais rápido e cumpram prazos menores por estarem mais conectados. Quase a
metade deles acha que seus empregadores esperam que eles estejam disponíveis a
qualquer hora ou lugar.
Claro que nem tudo é negativo. Chris Kozup, diretor da
empresa de telecom Aruba Networks, diz que um estudo conduzido pela própria
empresa "mostra que essa ideia de estar 'sempre ligado' está, na verdade,
ajudando os trabalhadores a gerenciarem o equilíbrio entre trabalho e vida
pessoal".
A chave é fazer com que essa flexibilidade aja em seu favor
e ser disciplinado quanto ao uso de smartphones. Ou seja, se você vai sair de férias, lembre-se de ativar os
alertas que avisarão que você estará "fora do escritório", de
desligar seu telefone e mantê-lo longe do alcance quando for dormir. E o conselho
de Christine Grant é: lembre-se de que "raramente você é o único capaz de
resolver um problema" no escritório.
Fonte: BBC