Uma igreja anglicana de São Jorge e São Tomás, da Alemanha, na cidade de Dublin, resolveu introduzir em sua missa músicas do conjunto de rock U2. O objetivo é atrair mais “fiéis”, e para isto as músicas estão sendo introduzidas na liturgia dominical.
Sucessos da banda irlandesa como "One" e "I Still Haven't Found What I'm Looking For"são tocados durante a missa."Estamos procurando atrair os jovens. Na música do U2 há uma profunda mensagem cristã", declarou Greg Fromhalz, que idealizou a iniciativa.
O resultado tem sido favorável, pois 150 pessoas a mais compareceram nos dois primeiros dias das missas. “A assim dita "U2carestia" (abreviação de U2-Eucaristia) nasceu nos Estados Unidos e foi proposta pela primeira vez em abril de 2004 durante a celebração de uma missa em Baltimore, por Sarah Dylan. A partir daquele dia foi difundida no mundo inteiro, especialmente na Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido” [BBC].
O culto nas igrejas tem objetivos: responder em linguagem humana ao Criador, e oferecer oportunidade para todos se expressarem através do canto e da oração. Há ainda o aspecto dos dogmas expressos em rituais, que quando executados transferem benefícios espirituais ao crente. A própria Bíblia oferece elementos deste culto que não podem ser descaracterizados – “Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos! Ajoelhemos diante do SENHOR que nos criou” Salmos 95:6. O censo de que cultuamos o Criador, a humilhação e a reverência são diretrizes fundamentais (ou deveriam ser) no culto cristão. “Qualquer coisa estranha e excêntrica no canto diminui a seriedade e o caráter sagrado do culto” 3ME, 333.
Mas a liturgia pós-moderna parece mais preocupada em atrair as pessoas para dentro da igreja e ali ministra-las o que elas querem ouvir. Esse é o caso da igreja anglicana que oferece músicas de rock para uma geração que gosta de shows, ritmo e dança. “O sucesso da "U2carestia" é baseado no fato de que muitas músicas do grupo liderado pelo vocalista Bono Vox divulgam a luta contra a Aids e a pobreza. Por exemplo, "Until the End of The World", faixa do álbum "Achtung Baby", descreve uma conversa entre Jesus e Judas Iscariotes”. [BBC]
A missa durou uma hora e meia e a Igreja foi aparelhada com telas de projeção e luzes, com se fosse o palco de um show. E esse é o grande problema de algumas igrejas ou programações oferecidas e produzidas ali. O aspecto do show e da dança é muito explorado no sentido de fazer os jovens se sentirem a vontade e atraídos até a igreja.
Mas uma coisa precisa ser bem entendida – diversão é uma coisa, e culto religioso é outra. Para se ter um culto aspectos como silêncio, reverencia, meditação, contemplação são estritamente necessários. O Criador não precisa de shows. Temos cenas da adoração que os anjos oferecem a Deus, e percebemos uma reverencia e padrão de expressões que nem sequer lembram da liturgia de muitas igrejas carismáticas ou desta “U2carestia”.
Podemos ilustrar as dimensões de um culto e da sua liturgia como vertical e horizontal. A vertical visa a expressão do ser humano para o Criador; o homem expressa seus sentimentos a Deus. Nesta dimensão há o aspecto da transcendência e imanência, onde valorizamos
A outra dimensão horizontal que interage com as pessoas que estão ali no culto, pois a igreja é uma comunidade e a interação social é saudável. A ênfase horizontal tem sido exagerada com o objetivo de agradar as pessoas e principalmente os jovens, introduzindo elemento seculares em vários aspectos do culto. A música é o veiculo principal dessa estratégia porque possui uma característica meditativa e reflexiva, e tem uma parte fundamental na liturgia. Assim elas são modificadas para atender ao gosto ou aos padrões dos ouvintes.
No entanto o objetivo da liturgia e da própria música é voltar a atenção do ser humano para a Divindade, e tais músicas não o fazem. As raízes delas estão ligadas a diversão, entretenimento e assim nunca conseguirão atingir o coração humano de tal forma a chamar sua atenção para Deus e provocar coisas como – arrependimento, fé, esperança e outros elementos essencialmente espirituais.
“Duas pessoas podem empenhar-se nos mesmos atos de culto exterior, contudo a adoração de uma, quando pesada nas balanças de ouro do santuário, pode ser achada em falta, enquanto a adoração da outra pode ser aceita. Somente a adoração realizada em sinceridade, com um coração contrito e humilde, é aceitável a Deus” GC, 554
As igrejas tradicionais estão sofrendo uma mutação em seus cultos e programações aos poucos; muitos classificam isso como um processo de apostasia; outros dizem que é um processo natural de aculturalização. Enfim, seja o que for o objetivo final esta sendo perdido, pois o ambiente das danceterias, palcos de show estão migrando para a nave da igreja. As pessoas estão querendo ouvir na igreja o mesmo que ouvem nos seus momentos de diversão.
“Assim, em lugar da justiça e perfeição do Deus infinito, verdadeiro objeto de adoração; em lugar da justiça perfeita de Sua lei, a verdadeira norma da perfeição humana, pôs Satanás a natureza pecaminosa, falível do próprio homem, como único objeto de adoração, a única regra para o juízo, ou norma de caráter. Isto é progresso, não para cima, mas para baixo” GC, 555.
Com o objetivo principalmente de atraírem jovens, os pastores, padres e bispos, permitem que esses elementos sejam introduzidos e façam parte do culto. Aparentemente os líderes não tem opção, ou ficam com a igreja vazia, ou atraem seu púbico. A necessidade intrínseca de Deus, os sentimentos de gratidão, adoração são perdidos de vista; a necessidade de agradar os sentidos através de som alto, luzes, movimento, silhuetas dos corpos, são introduzidos, neste falso culto cristão.
Enquanto houver discussão sobre o assunto estaremos seguros, pois os liberais e tradicionalistas estarão garantindo um equilíbrio, e o Espírito Santo irá dirigir esse diálogo e suas conclusões. Mas a medida que um dos lados traça as diretrizes do culto, teremos anomalias como esse culto anglicano.
