É um fato reconhecido por todos os cristãos, que o nascimento
de Jesus não foi no dia 25 de Dezembro. Este dia esta relacionado com o
solstício, ou a rotação do planeta ao redor do sol; no inverno (dia mais curto
do ano) no hemisfério Norte, ocorrendo por volta do dia 22 de dezembro; e 21 de
julho no hemisfério Sul.
As civilizações que iniciaram a adoração do sol retrocedem
aos sumérios e egípcios; e depois, babilônios, persas, gregos e romanos; todos
esses povos criaram suas próprias homenagens ao deus Sol.
Mas foram os romanos que pulverizaram o festival pagão do
Sol Invicto, no território do seu império e devido a isso, o dia 25 de dezembro se tornou um dia de festa pagã.
APROPRIAÇÕES
A Igreja cristã fixou a comemoração no dia 25 de dezembro
com a intenção de suplantar essas práticas pagãs entre os novos conversos.
Mas essas apropriações da igreja cristã não se restringiram
apenas ao segundo e quarto séculos na celebração do solstício. Outras apropriações
começaram bem antes.
O idioma e a escrita hebraica foi a primeira grande mudança
feita pela a igreja apostólica, que entendeu que o Evangelho de Jesus precisava
ser escrito em grego, e não mais em hebraico. A Septuaginta já havia sido
elaborada 300 anos antes, e disponibilizava o AT em grego. O império falava e lia o grego, e assim ocorreu uma das principais apropriações culturais - o idioma e a escrita.
Outra significativa apropriação da igreja cristã, do
paganismo do primeiro século, foi a substituição da adoração do imperador
[césares] para a adoração do seu próprio Rei, Jesus. Isso causou a morte de
milhares de cristãos que foram martirizados, por não admitir adorar a imagem do imperador, mas era a continuidade do mandamento de que a Deus apenas, se devia adorar.
Ainda nessa linha de apropriações ao imperador romano, a igreja
não mais reconhecia o César como o ‘Kirios’ [título de ´Senhor´, destinado ao
imperador] mas transferiu esse título a Jesus, o Deus Encarnado. O Nazareno
agora, era e ainda é, o Senhor Jesus [Kirios Iesus].
O Imperio também possuía um sistema de comunicação muito
eficiente para levar o ‘Evangelion’ [Boa Notícia] do imperador. O termo ‘evangelho´
era uma expressão romana para os comunicados do imperador. Marcos foi o
primeiro a usar esse termo, se apropriando do termo técnico do império e o
transformando no evangelho de Jesus Cristo.
A ‘Pax Romana’, expressão latina para ‘Paz Romana’, é o
longo período de relativa paz, gerada pelas armas e pelo autoritarismo,
experimentado pelo Império Romano que iniciou-se quando Augusto, em 28 a.C.,
declarou o fim das guerras civis e durou até o ano da morte do imperador Marco
Aurélio, em 180 d.C. ‘Pax Romana’ era uma expressão já usada na época,
possuindo um sentido de segurança, ordem e progresso para todos os povos
dominados por Roma.
O próprio Jesus, como Rei dos Judeus, e instalando o Reino
dos Céus, disse – “A minha paz vos dou; não a dou, como o mundo dá” João14:27.
Assim Jesus suplantou a ‘Pax Romana’ com o Reino da Graça.
Os romanos em suas cartas saudavam os remetentes com ‘Saúde
e Paz’; mas os cristãos se apropriando da expressão e a modificando, usaram em
suas cartas – “Graça e Paz” [Fp 1:2; Cl 1:2; 1Ts 1:1; 2Ts 1:2;Tt 1:4; 1Pd 1:2;
2Pd 1:2; Ap 1:4]. Os destinatários dessas cartas, em sua maioria eram de fala
grega, por todo o império, e entendiam a expressão que apontava para o Reino
dos Céus, e o Senhor Jesus Cristo.
Talvez, a mais popular das apropriações foi o aniversário. O
costume de festejar o nascimento de uma pessoa é narrada uma vez apenas na
Bíblia, sendo feita pelo Rei Herodes [Marcos 6:21]. Era um costume dos romanos
e se espalhou para todo o mundo do ocidente, como um hábito cultural. Até hoje
esse costume é muito popular no mundo ocidental contemporâneo. Quem não
comemora o próprio aniversário? Por que não comemorar o nascimento de Jesus? O maior
dos humanos que já nasceu.
As apropriações culturais também ocorriam nos nomes. O
evangelista João Marcos, tinha um nome duplo; Iohannes era um nome judeu, e
significa ‘amado de Yahweh’; e Marcos, era um nome romano, que significava,
servo de Marte. A mais famosa mudança foi a de Saulo, transformado no Paulo
cristão.
O NATAL HOJE
O dia de natal hoje tem o seu significado pleno no
cristianismo, e perdeu-se o significado pagão. O fato de ter sido escolhido
pelos pagãos, o dia 25 de dezembro, não é um dia marginalizado, ou
inapropriado. Pelo contrário, o cristianismo elegeu esse dia e se apropriou
dele para Jesus Cristo.
Foi assim com a data da Páscoa importada do judaísmo, e
dezenas de outras inserções da cultura deste povo. Hoje o cristianismo é
admitido como tendo raízes judaicas. E podemos admitir que os romanos
exportaram muitos valores que mais tarde foram apropriados ao cristianismo.
A celebração do Natal é cristã e exalta o maior de todos os
nascimentos de um ser humano-divino, o Senhor Jesus Cristo.
Estou feliz, por existir o natal.