A Bíblia tem três tipos de textos quando se refere ao vinho.
Há os textos narrativos ou descritivos; há os textos positivos e os textos
negativos.
A Bíblia narra o uso do vinho, mas uma narrativa não é uma
autorização. Como no caso de Noé (Gn 9:21) que usou da bebida forte, se
embriagou, se pôs nú dentro de sua tenda e trouxe vergonha para a família.
Nesse episódio, claramente é narrado o erro de Noé ao usar a bebida alcoólica,
e não se trata de uma aprovação daquilo que ele fez.
O vinho e as bebidas fortes não eram o ideal de Deus para a
humanidade. Isso porque a droga que essas bebidas contém é o álcool. E
comprovadamente a medicina já provou que o álcool é nocivo para o organismo
humano. E Deus jamais aprovaria algo que prejudicasse a saúde dos humanos.
Outro uso indevido foi o caso de Nadabe e Abiú, que sofreram
uma penalidade por entrar alcoolizados na presença de Deus no Tabernáculo (Lv 10:1,2)
e a seguir Deus se pronuncia dizendo – “Vinho ou bebida forte tu e teus filhos
não bebereis quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais;
estatuto perpétuo será isso entre as vossas gerações, para fazerdes
diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo e para
ensinardes aos filhos de Israel todos os estatutos que o SENHOR lhes tem falado
por intermédio de Moisés” vs9-10. Note que Deus relaciona o uso do álcool
como “profano” e “imundo”. E Arão e seus filhos deveriam ensinar isso como
estatuto ao povo. Nesse trecho de Levítico encontramos a restrição do álcool como
mandamento, não somente para os sacerdotes, mas para todo povo. E essa
recomendação está nos mandamentos e conselhos bíblicos.
Uma outra evidência de que o uso do álcool não era tolerado
era que o Tabernáculo nas cerimônias e refeições pactuais, o pão e o vinho
deveriam ser sem fermento (Nm 9:11). E isso se estende a Santa Ceia no NT, da
qual os pães e o vinho foram transferidos dessas cerimônias do Tabernáculo. É
um equívoco primário imaginar que o vinho da Santa Ceia seja o alcoolizado.
Salomão conhecedor dessas restrições afirma – “O vinho é
zombador e a bebida fermentada provoca brigas; não é sábio deixar-se dominar
por eles” Pv 20:1. “Não se deixe atrair pelo vinho quando está vermelho, quando
cintila no copo e escorre suavemente!” Pv 23:31.
No NT Paulo relaciona o hábito de beber e embriagar-se com o
pecado. “Ora, as obras da carne são manifestas: ... embriaguez, orgias e coisas
semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti: Aqueles que praticam
essas coisas não herdarão o Reino de Deus” Gl 5:19,21. “Não se embriaguem com
vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito” Ef 5:18.
Nas profecias o vinho é símbolo de corrupção e do mal. “Babilônia
que fez todas as nações beberem do vinho da fúria da sua prostituição!" Ap
14:8. “beberá do vinho do furor de Deus que foi derramado sem mistura no cálice
da sua ira. Será ainda atormentado com enxofre ardente na presença dos santos
anjos e do Cordeiro” Ap 14:10.
O uso da palavra “vinho” no texto bíblico
No entanto precisamos entender que quando o texto bíblico se
refere ao vinho, o contexto irá determinar se o vinho era puro ou fermentado.
Por exemplo em umas das promessas de Deus é dito – “seus celeiros ficarão
plenamente cheios, e os seus barris transbordarão de vinho” Pv 3:9-10.
Obviamente isso se refere ao vinho puro, não fermentado. O Deus que recomendou
que o povo fosse ensinado a não usar a bebida forte (Lv 10:10) não iria se
contradizer nessa promessa.
Jesus transformou a água em vinho no seu primeiro milagre
nas Bodas de Caná (Jo 2:10) e uma evidência de que era o vinho fresco, sem fermento,
é a observação do ‘mestre sala’, durante a festa, afirmando que o noivo havia
deixado o ‘melhor vinho’ para o final. O vinho ‘inferior’ na cultura judaica,
que era abstêmia do álcool, era o vinho fermentado.
O vinho fermentado ainda era usado como medicamento. Dai o
conselho de Paulo – “Não continue a beber somente água; tome também um pouco de
vinho, por causa do seu estômago e das suas frequentes enfermidades” 1Tm 5:23. O
VT descreve essa prática também – “Dê bebida fermentada aos que estão prestes a
morrer, vinho aos que estão angustiados” Pv 31:6. Mas percebemos que a Bíblia
recomenda por questões medicinais mas jamais de forma recreativa.
Conclusão
Os textos restritivos sobre o uso do vinho fermentado nos
ajudam a entender que isso era uma norma bíblica. Já os textos descritivos são
apenas como advertências sobre o erro daqueles que usaram o vinho fermentado. E
os textos que falam do uso do vinho, se referem ao vinho sem fermento, o vinho
puro.