A CONTINUAÇÃO DA REFORMA PROTESTANTE


A Reforma Protestante do século XVI proclamou cinco grandes princípios — Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia, Solus Christus, Soli Deo Gloria. Esses fundamentos devolveram à cristandade o

 eixo perdido da fé bíblica. Contudo  a Reforma não concluiu seu curso e que novas verdades deveriam ser restauradas antes da volta de Cristo.

Ela declara:


“A Reforma não terminou, conforme muitos supõem. Ela deve ser continuada até o fim do tempo. […] Cada geração tem de agir sua parte na grande controvérsia.”

— O Grande Conflito, p. 148


Os Adventistas do Sétimo Dia, herdeiros dessa herança espiritual, compreendem que a Reforma prossegue, acrescentando dois princípios complementares que completam o quadro da verdade redescoberta:


(1) Somente o Criador

(2) Somente a Intercessão de Cristo.


Esses dois novos “solas” são o coração da Reforma Continuada, chamando o mundo à fidelidade à lei de Deus e à fé no ministério celestial do Salvador.


1. “Somente o Criador” — A adoração ao Deus Criador e a restauração do sábado


O princípio Soli Deo Gloria exaltava a glória exclusiva de Deus; porém, o apelo final do Apocalipse amplia esse conceito, conclamando à adoração “Daquele que fez o céu, e a terra, e o mar”(Apocalipse 14:7).

A verdadeira Reforma deve restaurar a adoração ao Criador e o memorial de Sua criação — o sábado:


“O sábado é o grande teste da lealdade, pois é o ponto especial de verdade que é posto em controvérsia. […] Ao observarem o sábado, os filhos de Deus distinguem-se como leais a Ele.”

— O Grande Conflito, p. 605


“No sábado, Deus deseja que se adore Aquele que é o Criador do céu e da Terra. […] O sábado será o grande ponto de controvérsia no conflito final entre a verdade e o erro.”

— Eventos Finais, p. 146


A obediência ao quarto mandamento, longe de ser legalismo, é um reconhecimento da soberania divina — “somente o Criador” é digno de adoração. Assim, a adoração ao Criador no sábado se torna o emblema do primeiro novo “Sola”.


Esse princípio também restaura a Lei de Deus, base do governo celestial.


“A lei de Deus é tão sagrada como o próprio Deus. […] É a expressão do Seu caráter.”

— O Grande Conflito, p. 434


Aqueles que continuam a Reforma devem, portanto, não apenas defender a Bíblia como única regra de fé, mas também viver segundo os princípios imutáveis da lei divina, incluindo o quarto mandamento.


Além disso, a adoração ao Criador implica reconhecer o corpo humano como templo de Deus. A reforma de saúde, ensinada por Ellen White, é parte inseparável desse princípio:


“A reforma de saúde é uma parte da grande obra que deve preparar um povo para a vinda do Senhor. […] A temperança em todas as coisas é essencial à santificação do espírito, da alma e do corpo.”

— Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 69


Portanto, “Somente o Criador” sintetiza três pilares da fé adventista e da Reforma continuada:

A adoração ao Criador no sábado (Gn 2:1-3)

A validade eterna da Lei de Deus (Mt 5:17)

A reforma de saúde, como leis de saúde, que referenciam a criação divina do ser humano (Gn 1:29)


2. “Somente a Intercessão de Cristo” — O ministério celestial e o juízo investigativo


O princípio original Solus Christus proclamava que só Cristo é o mediador da salvação. A Reforma restaurada amplia esse conceito, mostrando que Cristo não apenas morreu por nós, mas também vive para interceder em nosso favor no santuário celestial.


É essa verdade central no adventismo; a mais importante e primeira revelação dada aos crentes reformadores do século XIX.


“Cristo entrou no próprio Céu, a fim de comparecer agora por nós na presença de Deus. […] Ele está ministrando no santuário celestial em nosso favor, apresentando o Seu sangue diante do Pai.”

— O Grande Conflito, p. 420


A doutrina do santuário celestial é a espinha dorsal do segundo novo “Sola”. Nela, Cristo é o único sacerdote e mediador entre Deus e o homem — uma reafirmação e expansão do Solus Christus.


“Assim como no serviço típico havia um juízo investigativo no fim do ano, assim antes da vinda de Cristo há um juízo investigativo no Céu. […] Ele é o Sumo Sacerdote que ministra diante de Deus em favor de Seu povo.”

— O Grande Conflito, p. 486-487


juízo investigativo, iniciado em 1844, marca o início da fase final do ministério de Cristo. É a continuação lógica do princípio reformador: não somente Cristo salva, mas Ele purifica o santuário e vindica a justiça divina.


“Quando Cristo cessar Sua intercessão no santuário celestial, o destino de cada pessoa estará decidido.”

— O Grande Conflito, p. 490


Portanto, “Somente a Intercessão de Cristo” destaca:

A crença em um santuário celestial literal (Hb 8:1,2)

ministério sacerdotal contínuo de Cristo (Hb 4:14-16)

juízo investigativo como parte do plano da salvação (Dn 7:9,10).


Assim, o adventismo não acrescenta uma nova mediação, mas expande a compreensão do único mediador — Cristo — em toda a plenitude de Seu ministério.


3. Os Sete Solas: a Reforma Restaurada


A Reforma Protestante levantou cinco princípios para libertar a fé cristã da tradição humana. A Reforma Adventista os conserva e os amplia, completando a restauração com sete princípios eternos:


Os Solas Clássicos

1. Sola Scriptura — Somente a Escritura

2. Sola Fide — Somente a Fé

3. Sola Gratia — Somente a Graça

4. Solus Christus — Somente Cristo

5. Soli Deo Gloria — Glória Somente a Deus

Os Solas Restaurados

6. Sola Creator — Somente o Criador

7. Sola Intercessio Christi — Somente a Intercessão de Cristo


Esses “Sete Solas” representam a plenitude da Reforma: a restauração da verdade bíblica em todos os seus aspectos — doutrinal, moral e profético.

Ellen White resume esse propósito profético:


“Nosso trabalho é levar adiante a Reforma. […] Devemos restaurar cada ponto de verdade que foi removido e preparar um povo para permanecer firme no grande dia de Deus.”

— Testemunhos para a Igreja, vol. 6, p. 17


Conclusão


A Reforma Protestante foi apenas o alvorecer da restauração. A luz continuou a brilhar, e sob o chamado de Deus, os adventistas do sétimo dia mantêm viva a tocha da verdade.

Os “Sete Solas” da Reforma continuada — culminando em “Somente o Criador” e “Somente a Intercessão de Cristo” — revelam a última fase da obra de Deus: a adoração verdadeira e a fé no ministério celestial de Cristo.


Assim, a Reforma não terminou com Lutero, mas atinge sua plenitude no movimento que honra a lei de Deus, o sábado do Criador e a intercessão de Cristo no santuário celestial — preparando a humanidade para o clímax da história: a volta do Redentor.


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A REFORMA PROTESTANTE NÃO ACABOU

Os Adventistas do Sétimo Dia como Herdeiros da Reforma

A Reforma Protestante do século XVI não foi um evento isolado, mas o início de uma obra divina destinada a restaurar gradualmente a verdade bíblica. O mesmo espírito de reforma que moveu Lutero e os primeiros reformadores deveria continuar até o fim dos tempos. Para ela, o protestantismo moderno se afastou de seus fundamentos, e o manto da reforma passou para um povo que mantém viva a bandeira da verdade: os adventistas do sétimo dia.


1. A necessidade de continuar a Reforma


Embora os reformadores tenham restaurado verdades fundamentais, sua obra não foi completa:


“Há em nosso tempo um vasto afastamento das doutrinas e preceitos bíblicos, e há necessidade de uma volta ao grande princípio protestante — a Bíblia, e a Bíblia só, como regra de fé e prática. […] A mesma inseparável adesão à Palavra de Deus que se manifestou na crise da Reforma, é a única esperança de reforma hoje.”

— O Grande Conflito, p. 205 


A verdadeira Reforma deve prosseguir até que todas as verdades bíblicas sejam restauradas. O protestantismo, ao buscar o favor do mundo, “distanciou-se daquele dos dias da Reforma” (O Grande Conflito, p. 499 ). Assim, a responsabilidade de continuar a obra reformadora recai sobre um povo que mantém o princípio da sola Scriptura e a fidelidade aos mandamentos de Deus.


2. O afastamento do protestantismo moderno


O protestantismo moderno perdeu o espírito de busca às verdades que oos reformadores iniciaram:


“O protestantismo moderno muito se distancia daquele dos dias da Reforma. […] Em vez de permanecerem em defesa da fé que uma vez foi entregue aos santos, estão hoje […] justificando Roma.”

— O Grande Conflito, p. 499 


Esse afastamento é como um sinal de apostasia e alerta que o “professo mundo protestante formará uma confederação com o homem do pecado” (Testemunhos para a Igreja, vol. 5, p. 368 ). Assim, o verdadeiro espírito da Reforma — a fidelidade à Palavra e à consciência — não se encontra mais no protestantismo popular, mas em um remanescente que permanece fiel à lei de Deus.


3. O povo adventista como sucessor da Reforma


O movimento adventista não é mais uma igreja, mas a continuação da Reforma inacabada:


“O nome Adventista do Sétimo Dia é uma contínua exprobração ao mundo protestante. […] É o nome que o Senhor nos deu. Esse nome indica a verdade que deve ser o teste das igrejas.”

— Testemunhos para a Igreja, vol. 1, p. 223-224 


Ao guardar todos os mandamentos de Deus e proclamar as mensagens dos três anjos (Apocalipse 14), os adventistas se colocam no ponto culminante do movimento reformador, chamando o mundo cristão de volta à obediência total à Palavra.


4. O princípio protestante da liberdade de consciência


Os reformadores protestaram contra toda imposição religiosa e defenderam o direito de adorar conforme a consciência. Devemos recordar o protesto de Espira (1529) como o ápice dessa luta:


“A coragem, fé e firmeza daqueles homens de Deus alcançaram para os séculos que se seguiram a liberdade de pensamento e consciência. […] Os princípios são a própria essência do protestantismo.”

— O Grande Conflito, p. 197 


A crise final girará novamente em torno desse mesmo princípio — a obediência a Deus em oposição às exigências humanas (Eventos Finais, p. 147-148 ). Portanto, o movimento adventista revive os ideais centrais da Reforma: a supremacia das Escrituras e a liberdade religiosa.


5. O clímax da Reforma e a restauração final da verdade


A Reforma que começou com Lutero culminará com a proclamação da última mensagem de advertência ao mundo.


“O protestantismo dará a mão da comunhão ao poder romano. […] No próprio ato de impor um dever religioso por meio do poder secular, formariam as igrejas mesmas uma imagem à besta.”

— O Grande Conflito, p. 615-616 


A missão adventista, ao denunciar essa união e exaltar o sábado bíblico, representa o último ato da Reforma — a restauração plena da verdade e da adoração genuína.


Conclusão


A Reforma Protestante não terminou com Lutero, Zwínglio ou Calvino. Ellen G. White mostra que a obra de restauração da verdade avança até o tempo do fim, quando o remanescente de Deus — identificado como os adventistas do sétimo dia — ergue novamente a bandeira da Reforma com a proclamação: “Temei a Deus e dai-lhe glória, porque é chegada a hora do seu juízo.” (Apocalipse 14:7).


Assim, longe de ser uma nova igreja, o movimento adventista é a continuação e o clímax da Reforma Protestante, chamado por Deus para restaurar a verdade completa e preparar o mundo para a volta de Cristo.


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O LOCAL DO JULGAMENTO QUE OCORRE EM NOSSOS DIAS

Jesus e seu trabalho no santuário do céu

 
O santuário do Céu, no qual Jesus ministra em nosso favor, é o grande original, de que o santuário construído por Moisés foi uma cópia. Deus pôs Seu Espírito sobre os construtores do santuário terrestre. A habilidade artística patenteada no trabalho era uma manifestação da sabedoria divina. As paredes tinham a aparência de ouro maciço, refletindo em todas as direções a luz das sete lâmpadas do castiçal de ouro. A mesa dos pães da proposição e o altar do incenso fulguravam como ouro polido. A magnífica cortina que formava o teto, bordada de figuras de anjos, nas cores azul, púrpura e escarlata, aumentava a beleza do cenário. E, além do segundo véu, estava o sagrado shekinah, a visível manifestação da glória de Deus, ante a qual ninguém, a não ser o sumo sacerdote, poderia entrar e viver.

O esplendor sem-par do tabernáculo terrestre refletia à vista humana as glórias do templo celestial em que Cristo, nosso Precursor, ministra por nós perante o trono de Deus. A morada do Rei dos reis, em que milhares de milhares O servem, e milhões de milhões estão em pé diante dEle (Dan. 7:10), sim, aquele templo, repleto da glória do trono eterno, onde serafins, seus resplandecentes guardas, velam a face em adoração - não poderia encontrar na estrutura mais magnificente que hajam erigido as mãos humanas, senão pálido reflexo de sua imensidade e glória. Contudo, importantes verdades relativas ao santuário celestial e à grande obra ali levada a efeito pela redenção do homem, eram ensinadas pelo santuário terrestre e seu culto.

Os lugares santos do santuário celeste são representados pelos dois compartimentos do santuário terrestre. Sendo, em visão, concedido ao apóstolo João vislumbrar o templo de Deus nos Céus, contemplou ele, ali, "sete lâmpadas de fogo" que "diante do trono ardiam". Apoc. 4:5. Vi um anjo, "tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono". Apoc. 8:3. Foi permitido ao profeta contemplar o primeiro compartimento do santuário celestial; e viu ali as "sete lâmpadas de fogo", e o "altar de ouro", representados pelo castiçal de ouro e altar de incenso, do santuário terrestre. De novo, "abriu-se no Céu o templo de Deus" (Apoc. 11:19), e ele olhou para dentro do véu interior, ao lugar santíssimo. Ali viu "a arca do Seu concerto", representada pelo receptáculo sagrado, construído por Moisés, para guardar a lei de Deus.

Assim, os que estavam a estudar o assunto encontraram prova indiscutível da existência de um santuário no Céu. Moisés fez o santuário terrestre segundo o modelo que lhe foi mostrado. Paulo ensina que aquele modelo era o verdadeiro santuário que está no Céu. E João dá testemunho de que o viu no Céu.

No templo celestial, morada de Deus, acha-se o Seu trono, estabelecido em justiça e juízo. No lugar santíssimo está a Sua lei, a grande regra da justiça, pela qual a humanidade toda é provada. A arca que encerra as tábuas da lei se encontra coberta pelo propiciatório, diante do qual Cristo, pelo Seu sangue, pleiteia em prol do pecador. Assim se representa a união da justiça com a misericórdia no plano da redenção humana. Somente a sabedoria infinita poderia conceber esta união, e o poder infinito realizá-la; é uma união que enche o Céu todo de admiração e adoração. Os querubins do santuário terrestre, olhando reverentemente para o propiciatório, representam o interesse com que a hoste celestial contempla a obra da redenção. Este é o mistério da misericórdia a que os anjos desejam atentar: que Deus pode ser justo, ao mesmo tempo em que justifica o pecador arrependido e renova Suas relações com a raça decaída; que Cristo pode humilhar-Se para erguer inumeráveis multidões do abismo da ruína e vesti-las com as vestes imaculadas de Sua própria justiça, a fim de se unirem aos anjos que jamais caíram e habitarem para sempre na presença de Deus.

A obra de Cristo como intercessor do homem é apresentada na bela profecia de Zacarias, relativa Aquele, "cujo nome é Renovo". Diz o profeta: "Ele mesmo edificará o templo do Senhor, e levará a glória, e assentar-Se-á, e dominará no Seu trono, e será sacerdote no Seu trono, e conselho de paz haverá entre Eles ambos." Zac. 6:13.

"Ele mesmo edificará o templo do Senhor." Pelo Seu sacrifício e mediação, Cristo é tanto o fundamento como o edificador da igreja de Deus. O apóstolo Paulo indica-O como "a principal pedra de esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós", diz ele, "juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito". Efés. 2:20-22.

Ele "levará a glória". A Cristo pertence a glória da redenção da raça decaída. Através das eras eternas, o cântico dos resgatados será: "Àquele que nos ama, e em Seu sangue nos lavou dos nossos pecados, ... a Ele glória e poder para todo o sempre." Apoc. 1:5 e 6.

"E assentar-Se-á, e dominará no Seu trono, e será sacerdote no Seu trono." Agora não está "no trono de Sua glória"; o reino de glória ainda não foi inaugurado. Só depois que termine a Sua obra como mediador, Lhe dará Deus "o trono de Davi, Seu pai", reino que "não terá fim". Luc. 1:32 e 33. Como sacerdote, Cristo está agora assentado com o Pai em Seu trono (Apoc. 3:21). No trono, com o Ser eterno e existente por Si mesmo, é Ele o que "tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si"; que "em tudo foi tentado, mas sem pecado"; para que possa "socorrer aos que são tentados". "Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai." Isa. 53:4; Heb. 4:15; 2:18; I João 2:1. Sua intercessão é a de um corpo ferido e quebrantado, de uma vida imaculada. As mãos feridas, o lado traspassado, os pés cravejados, pleiteiam pelo homem decaído, cuja redenção foi comprada com tão infinito preço.

E conselho de paz haverá entre Eles ambos." O amor do Pai, não menos que o do Filho, é o fundamento da salvação para a raça perdida. Disse Jesus aos discípulos, antes de Se retirar deles: "Não vos digo que Eu rogarei por vós ao Pai; pois o mesmo Pai vos ama." João 16:26 e 27. "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo." II Cor. 5:19. E no ministério do santuário, no Céu, "conselho de paz haverá entre Eles ambos." "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16.

A pergunta - Que é o santuário? - é claramente respondida nas Escrituras. O termo "santuário", conforme é empregado na Bíblia, refere-se primeiramente, ao tabernáculo construído por Moisés, como figura das coisas celestiais; e, em segundo lugar, ao "verdadeiro tabernáculo", no Céu, para o qual o santuário terrestre apontava. À morte de Cristo, terminou o serviço típico. O "verdadeiro tabernáculo", no Céu, é o santuário do novo concerto. E como a profecia de Daniel 8:14 se cumpre nesta dispensação, o santuário a que ela se refere deve ser o santuário do novo concerto. Ao terminarem os 2.300 dias, em 1844, já por muitos séculos não havia santuário sobre a Terra. Destarte, a profecia - "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado", aponta inquestionavelmente para o santuário do Céu.

A questão mais importante, porém, ainda está para ser respondida: Que é a purificação do santuário? Que houve tal cerimônia com referência ao santuário terrestre, acha-se declarado nas Escrituras do Antigo Testamento. Mas poderá no Céu haver alguma coisa a ser purificada? No capítulo 9 de Hebreus a purificação do santuário terrestre, bem como a do celestial, encontra-se plenamente ensinada. "Quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão. De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no Céu assim se purificassem [com sangue de animais]; mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes" (Heb. 9:22 e 23), ou seja, com o precioso sangue de Cristo.

A purificação, tanto no serviço típico como no real, deveria executar-se com sangue: no primeiro com sangue de animais, no último com o sangue de Cristo. Paulo declara, como razão por que esta purificação deve ser efetuada com sangue, que sem derramamento de sangue não há remissão. Remissão, ou ato de lançar fora o pecado, é a obra a efetuar-se. Mas, como poderia haver pecado em relação com o santuário, quer no Céu quer na Terra? Isto se pode compreender por uma referência ao culto simbólico; pois que os sacerdotes que oficiavam na Terra serviam de "exemplar e sombra das coisas celestiais". Heb. 8:5.

O serviço no santuário terrestre dividia-se em duas partes: os sacerdotes ministravam diariamente no lugar santo, ao passo que uma vez ao ano o sumo sacerdote efetuava uma obra especial de expiação no lugar santíssimo, para a purificação do santuário. Dia após dia, o pecador arrependido levava sua oferta à porta do tabernáculo, e, colocando a mão sobre a cabeça da vítima, confessava seus pecados, transferindo-os assim, figuradamente, de si para o sacrifício inocente. O animal era então morto. "Sem derramamento de sangue", diz o apóstolo, "não há remissão de pecado." "A vida da carne está no sangue." Lev. 17:11. A lei de Deus, sendo violada, exige a vida do transgressor. O sangue, representando a vida que o pecador perdera, pecador cuja culpa a vítima arrostava, era levado pelo sacerdote ao lugar santo e aspergido diante do véu, atrás do qual estava a arca contendo a lei que o pecador transgredira. Por esta cerimônia, o pecado transferia-se, mediante o sangue, em figura, para o santuário. Em alguns casos o sangue não era levado para o lugar santo; mas a carne deveria então ser comida pelo sacerdote, conforme Moisés determinou aos filhos de Arão, dizendo: "O Senhor a deu a vós, para que levásseis a iniqüidade da congregação." Lev. 10:17. Ambas as cerimônias simbolizavam, de igual modo, a transferência do pecado do penitente para o santuário.

Esta era a obra que, dia após dia, se prolongava por todo o ano. Os pecados de Israel eram assim transferidos para o santuário, e uma obra especial se tornava necessária para a sua remoção. Deus ordenou que fosse feita expiação para cada um dos compartimentos sagrados. "Fará expiação pelo santuário por causa das imundícias dos filhos de Israel e das suas transgressões, segundo todos os seus pecados: e assim fará para a tenda da congregação que mora com eles no meio das suas imundícias." Devia também ser feita expiação pelo altar, para o purificar e santificar "das imundícias dos filhos de Israel". Lev. 16:16 e 19.

Uma vez por ano, no grande dia da expiação, o sacerdote entrava no lugar santíssimo para a purificação do santuário. A obra ali efetuada completava o ciclo anual do ministério. No dia da expiação dois bodes eram trazidos à porta do tabernáculo, e lançavam-se sortes sobre eles, "uma sorte pelo Senhor, e a outra sorte pelo bode emissário". Lev. 16:8. O bode, sobre o qual caía a sorte do Senhor, deveria ser morto como oferta pelo pecado do povo. E devia o sacerdote trazer o sangue do bode para dentro do véu e aspergi-lo sobre o propiciatório e diante do propiciatório. Devia também aspergir o sangue sobre o altar de incenso, que estava diante do véu.

"E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para isso. Assim, aquele bode levará sobre si todas as iniqüidades deles à terra solitária." Lev. 16:21 e 22. O bode emissário não mais vinha ao acampamento de Israel, e exigia-se que o homem, que o levara, lavasse com água a si e suas vestes, antes de voltar ao acampamento.

Toda esta cerimônia tinha por fim impressionar os israelitas com a santidade de Deus e o Seu horror ao pecado; e, demais, mostrar-lhes que não poderiam entrar em contato com o pecado sem se poluir. Exigia-se que, enquanto a obra de expiação se efetuava, cada homem afligisse a alma. Todas as ocupações deviam ser postas de parte, e toda a congregação de Israel passar o dia em solene humilhação diante de Deus, com oração, jejum e profundo exame de coração.

Importantes verdades concernentes à expiação eram ensinadas pelo culto típico. Um substituto era aceito em lugar do pecador; mas o pecado não se cancelava pelo sangue da vítima. Provia-se, desta maneira, um meio pelo qual era transferido para o santuário. Pelo oferecimento do sangue, o pecador reconhecia a autoridade da lei, confessava sua culpa na transgressão e exprimia o desejo de perdão pela fé num Redentor vindouro; mas não ficava ainda inteiramente livre da condenação da lei. No dia da expiação o sumo sacerdote, havendo tomado uma oferta da congregação, entrava no lugar santíssimo com o sangue desta oferta, e o aspergia sobre o propiciatório, diretamente sobre a lei, para satisfazer às suas reivindicações. Então, em caráter de mediador, tomava sobre si os pecados e os retirava do santuário. Colocando as mãos sobre a cabeça do bode emissário, confessava todos esses pecados, transferindo-os assim, figuradamente, de si para o bode. Este os levava então, e eram considerados como para sempre separados do povo.

Tal era o serviço efetuado como "exemplar e sombra das coisas celestiais". E o que se fazia tipicamente no ministério do santuário terrestre, é feito na realidade no ministério do santuário celestial. Depois de Sua ascensão, começou nosso Salvador a obra como nosso Sumo Sacerdote. Diz Paulo: "Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus." Heb. 9:24.

O ministério do sacerdote, durante o ano todo, no primeiro compartimento do santuário, "para dentro do véu" que formava a porta e separava o lugar santo do pátio externo, representa o ministério em que entrou Cristo ao ascender ao Céu. Era a obra do sacerdote no ministério diário, a fim de apresentar perante Deus o sangue da oferta pelo pecado, bem como o incenso que ascendia com as orações de Israel. 

Assim pleiteava Cristo com Seu sangue, perante o Pai, em favor dos pecadores, apresentando também, com o precioso aroma de Sua justiça, as orações dos crentes arrependidos. Esta era a obra ministerial no primeiro compartimento do santuário celeste.

Para ali a fé dos discípulos acompanhou a Cristo, quando, diante de seus olhos, Ele ascendeu. Ali se centralizara sua esperança, e esta esperança, diz Paulo, "temos como âncora da alma segura e firme, e que penetra até o interior do véu, onde Jesus, nosso Precursor, entrou por nós, feito eternamente Sumo Sacerdote". "Nem por sangue de bodes e bezerros mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção." Heb. 6:19 e 20; 9:12.

Durante dezoito séculos este ministério continuou no primeiro compartimento do santuário. O sangue de Cristo, oferecido em favor dos crentes arrependidos, assegurava-lhes perdão e aceitação perante o Pai; contudo, ainda permaneciam seus pecados nos livros de registro. Como no serviço típico havia uma expiação ao fim do ano, semelhantemente, antes que se complete a obra de Cristo para redenção do homem, há também uma expiação para tirar o pecado do santuário. Este é o serviço iniciado quando terminaram os 2.300 dias. Naquela ocasião, conforme fora predito pelo profeta Daniel, nosso Sumo Sacerdote entrou no lugar santíssimo para efetuar a última parte de Sua solene obra - purificar o santuário.

Como antigamente eram os pecados do povo colocados, pela fé, sobre a oferta pelo pecado, e, mediante o sangue desta, transferidos simbolicamente para o santuário terrestre, assim em o novo concerto, os pecados dos que se arrependem são, pela fé, colocados sobre Cristo e transferidos, de fato, para o santuário celeste. E como a purificação típica do santuário terrestre se efetuava mediante a remoção dos pecados pelos quais se poluíra, igualmente a purificação real do santuário celeste deve efetuar-se pela remoção, ou apagamento, dos pecados que ali estão registrados. Mas antes que isto se possa cumprir, deve haver um exame dos livros de registro para determinar quem, pelo arrependimento dos pecados e fé em Cristo, tem direito aos benefícios de Sua expiação. A purificação do santuário, portanto, envolve uma investigação - um julgamento. Isto deve efetuar-se antes da vinda de Cristo para resgatar Seu povo, pois que, quando vier, Sua recompensa estará com Ele para dar a cada um segundo as suas obras (Apoc. 22:12).

Os que seguiram a luz da palavra profética viram que, em vez de vir Cristo à Terra, ao terminarem em 1844 os 2.300 dias, entrou Ele então no lugar santíssimo do santuário celeste, a fim de levar a efeito a obra final da expiação, preparatória à Sua vinda.

Verificou-se também que, ao passo que a oferta pelo pecado apontava para Cristo como um sacrifício, e o sumo sacerdote representava a Cristo como mediador, o bode emissário tipificava Satanás, autor do pecado, sobre quem os pecados dos verdadeiros penitentes serão finalmente colocados. Quando o sumo sacerdote, por virtude do sangue da oferta pela transgressão, removia do santuário os pecados, colocava-os sobre o bode emissário. 

Quando Cristo, pelo mérito de Seu próprio sangue, remover do santuário celestial os pecados de Seu povo, ao encerrar-se o Seu ministério, Ele os colocará sobre Satanás, que, na execução do juízo, deverá encarar a pena final. O bode emissário era enviado para uma terra não habitada, para nunca mais voltar à congregação de Israel. Assim será Satanás para sempre banido da presença de Deus e de Seu povo, e eliminado da existência na destruição final do pecado e dos pecadores.

Fonte: Livro o Grande Conflito; págs;414-422