LEVÍTICO – O QUE VALE, E O QUE NÃO VALE MAIS?



A leitura que se faz dos Escritos Sagrados, a Bíblia, tem regras de interpretação. Cada seção tem suas próprias regras à parte – Lei, Livros Históricos, Profecias, Livros Poéticos, Evangelhos etc.

A Hermenêutica bíblica estabelece que para se interpretar esses vários livros, há um protocolo a ser seguido. Se isso não é considerado, a leitura é errada e as conclusões são piores ainda.

O livro de Levítico esta no Pentateuco, a Lei, e existem pressupostos para se entender essa seção:

  1.         O texto é literal
  2.         Os relatos são fatos que ocorreram e se tornam ‘tipos’ na seção dos profetas
  3.         Os mandamentos estão por todo o Pentateuco; do Gênesis ao Deuteronômio. Não estão sistematizados, mas são inseridos de acordo com os relatos.
  4.         O texto nos relatos não são autoritativos; a Lei se encontra em preceitos, ordenanças, estatutos, mandamentos e juízos [Gn 26:5].
  5.        Os mandamentos estão em formato positivo ou negativos.
  6.         A  Lei possui 613 preceitos, ordenanças, estatutos e mandamentos – 365 negativos e 248 positivos.
  7.         A Lei possui artigos de ordem – cerimonial, moral, civil, saúde, cultural e locais.
  8.          A Lei foi editada em um regime Teocrático; nos regimes de realeza, e mais tarde de cativeiro, os artigos civis da Lei, eram suspensos.
  9.         Os artigos culturais da Lei, eram mandamentos para o povo de Israel, e não necessariamente mandamentos em tempo posterior na era cristã.

A Lei tem uma Constituição ou os Dez Mandamentos, que se constituem o mínimo da Lei [dos 613 mandamentos]. Os Dez Mandamentos tem uma base que rege toda a Lei – o amor a Deus e amor ao próximo. Ou seja, tudo o que você lê no Pentateuco, incluindo Levítico, é regulado pelo amor.

Seções da Lei - artigos de saúde
Embora não esteja sistematizada, a Lei possui seções  de mandamentos – cerimonial, moral, civil, saúde, cultural e locais.

A seção de mandamentos de saúde é evidenciada pela ciência hoje, por exemplo:

Levítico 11 – é um Tratado de Zoonose; os animais que são alistados como ‘imundos’ são ‘reservatórios’ de micro-organismos que transmitem doenças a humanos.

Levítico 3 :16 – o mandamento proíbe a ingestão [não proíbe transfusão] de sangue e gordura. A ingestão de sangue era um condição moral, e a explicação bíblica é que no “sangue está a vida”. 

Além disso o argumento da saúde deve ser considerado, pois o sangue contem excreções e toxinas; hormônios do animal também estão no sangue e afetam os órgãos dos humanos.
A gordura animal hoje se sabe que é inflamatória no organismo humano e causa a aterosclerose, ou endurecimento das artérias, favorecendo o IAM e o AVC.

Levítico 18 – as relações sexuais que são alistadas como ilícitas, na sua maioria são hoje entendidas como restrições para complicações genéticas. O incesto [vs 6-9] é proibido em seus vários graus [vs11-17].

O argumento de que Adão e Eva permitiram seus filhos a fazer o incesto, porque eles tomaram suas irmãs como esposas e parceiras sexuais, é um argumento verdadeiro. Mas o incesto que ali ocorreu foi devido a instalação do pecado no planeta. Foi uma medida extrema para a sobrevivência da raça humana caída. Mas depois disto o incesto não foi incentivado.

A degradação da raça humana, as muitas doenças, defeitos genéticos, desordens fisiológicas, vieram desse primeiro incesto. 

Deuteronômio 22:11 "Não vestirás de estofos de lã e linho juntamente" - esse artigo da Lei é colocado, por alguns, na seção de saúde. A estática provocada por tecidos de dois ou mais materiais seria a razão para evitar tais tecidos.

A estática causa um desiquilíbrio na eletricidade do corpo humano; e isso a longo prazo pode ser prejudicial.

Outros teóricos colocam esse artigo na seção ambiental da Lei. A Torah possui mandamentos de ordem a proteger o meio ambiente. Essa ordenança dos tecidos está ao lado de outro que diz - "Não lavrarás com junta de boi e jumento" v10. A conclusão é óbvia; os bovinos tem muito mais força que o jumento e colocariam em risco a vida do animal menor.

O quarto mandamento do Decálogo, que é a Constituição de toda Lei, ordena que no dia de descanso os animais deveriam também ser poupados de trabalho e descansarem [Ex 20:10].

A Lei é profunda e vasta, para uma crítica superficial e uma leitura rápida e tendenciosa. Hoje o meio ambiente é tão cercado de leis, mas elas estão nos escritos dos hebreus a 3500 anos.

Artigos culturais
O povo de Israel, no governo Teocrático, tinha um mandamento rigoroso para não se misturar às nações que eram pagãs. E haviam várias ordenanças culturais como “não  cortareis o cabelo em redondo” 19:27. Essa era uma ordenança cultural para que os israelitas tivessem uma aparência distinta dos povos de Canaã que cortavam seu cabelo desta forma. O mesmo ocorria com a barba; os caldeus e os babilônios ‘desenhavam suas barbas’ e o povo de Israel não devia ter esse costume. Mas essa era uma regra para os homens que fossem deixar a barba. É obvio que nem todos os homens tinham barba. Sendo assim era uma ordenança cultural. Haviam dezenas de ordenanças culturais restritas a Israel e aquele tempo.

Duas coisas – a teologia estabelece a diferença entre: ordenança, preceito, mandamento e juízo; e é a teologia sistemática que irá desenvolver o que é cultural e o que é moral, sendo válido ou inválido hoje.

A tatuagem [Lv 19:28] é considerado também uma ordenança cultural, mas tinha conotações espirituais. Os pagãos se tatuavam em rituais aos mortos, aos ídolos e deuses.
A ordenança é descrita em duas partes, sendo a última frase descrita – “não fareis nenhuma marca sobre vós” up. Boa parte dos estudiosos entende que há duas ordenanças aqui. Embora as duas sejam culturais, a última é categórica em não se desenhar, ou tatuar nada sobre o corpo.

Artigos Civis da Lei
Há muitos estatutos de ordem civil. Era o código civil de Israel e legislava sobre: pecuária, agricultura, terras etc.

Enquanto Israel permaneceu na Teocracia esses estatutos deveriam ser seguidos – era Lei.
Mas depois que Israel estava sob a jurisdição de outro Império, essas leis ficavam suspensas.
Dai o motivo de hoje não seguirmos essas regras. Mas elas são as melhores leis civis, porque foram idealizadas por Deus.

Jesus ao se reportar sobre a Lei em seu primeiro discurso (Sermão do Monte) disse que não vinha para abolir a Lei ou destruí-la (Mateus 5:17). E esta Lei que Jesus citava era a Torah ou o Pentateuco, com seus 613 artigos.

Paulo, o grande teólogo da igreja cristã, deixou em sua carta canônica de 1 Timóteo a declaração de que “toda escritura é inspirada e útil” (3:12).

O que está acontecendo aqui? Contradição? De forma alguma. O problema está em nossa exegese textual e regras interpretação.

Os Doutores da Lei no tempo de Cristo assumiam que os artigos da Lei que regiam a pena de morte não estavam mais sobre a jurisdição deles – “A nós não nos é lícito matar ninguém” João 18:31.

Os Doutores da Lei já haviam colocado essa questão diante de Jesus – “E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? João 8:5. Jesus articulou da mesma forma que a questão do dízimo – “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” Lucas 20:25.

A vigência civil de certos artigos da lei não estavam mais na mão dos judeus. Eles a receberam em uma jurisdição teocrática. Desde aquela época, os reis haviam assumido o poder e posteriormente as nações gentias governavam sobre eles, e a estes se sujeitavam.

O que percebemos é a jurisdição de certos artigos da lei (não sua validade). Em Levítico apedrejar pessoas não está mais no poder da autoridade eclesiástica (já esteve) mas o que dizer do dízimo? Jesus postulou – “dai... a Deus o que é de Deus”.

Calendário da agricultura
Haviam estatutos que regiam o calendário dos plantios e colheitas.
A regra da terra ter um ano de descanso, favorece a recuperação do solo na composição dos nutrientes. Os alimentos estão perdendo seus nutrientes porque monoculturas estão empobrecendo o solo.

A agricultura atual só é possível através dos adubos químicos e pesticidas; mas isso não é o ideal.
Esses estatutos são espiritualizados e se fazem tipologia para eventos escatológicos como – pentecostes, chuva serôdia, chuva temporã, etc.

Conclusão
Criticar a Bíblia não é tão simples. É preciso ler e estudar.

Para cada mandamento, estatuto, preceito e juízo da Lei, há uma razão, existe bênçãos e vida em cada um deles.

Eu sou o Senhor vosso Deus. Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã, para a qual vos levo, nem andareis nos seus estatutos.
Fareis conforme os meus juízos, e os meus estatutos guardareis, para andardes neles. Eu sou o Senhor vosso Deus. Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, observando-os o homem, viverá por eles. Eu sou o Senhor” Levítico 18:2-5.